Encontramos Manuel Arriaga no meio da multidão, no santuário, ainda antes da chegada do Papa. Veio com o grupo de peregrinos da Associação Vale de Acór. «Já é o vigésimo ano que venho a Fátima», começa por nos dizer. Peregrina há 20 anos consecutivos e faz-lhe sentido vir com este grupo, pois «é um grupo onde eu sinto muito a presença de Jesus, muito a presença de Deus diretamente nas pessoas, em cada conversa, em cada gesto, em cada sorriso», justifica.
A conversão
A história de Manuel é uma história de conversão. Embora «nunca tenha deixado de ser católico», «faltava muito». Porém, houve um momento de viragem, em que percebeu que a vida não podia ser encarada apenas de forma leve, lúdica e material e não podia «ser outra coisa senão peregrinar, peregrinar para Deus, para Jesus, para o céu». Uma conversão vivida a dois tempos, de dois acontecimentos. O primeiro, relacionado com a sua vida pessoal e o segundo, com a sua vida espiritual.
O primeiro sinal chegou quando se tornou pai: «Quando eu passei a ser pai, percebi duas coisas importantes: primeiro, um pai, e Deus é pai, perdoa tudo aos seus filhos. E depois percebi, pelo facto de ser pai que a vida deixou de ser uma brincadeira e passou a ser uma missão.»
O segundo momento surgiu, inicialmente, pouco convicto, numa peregrinação a Medjugorje. Manuel não era muito mariano, reconhece; não tinha, inclusivamente, «muita pachorra para estas coisas de Nossa Senhora.» Foi o que transmitiu a um casal amigo que insistiu para que fizesse aquela experiência de peregrinação com eles. Mas Nossa Senhora trocou-lhe as voltas e chamou-o através de uma criancinha. «Um dia eu estava à espera dos meus filhos, eram acólitos e eles estavam a desparamentar-se e aparece uma miudinha e dá-me um santinho. E eu perguntei: o que é isto? Olhei para a imagem [era Nossa Senhora], quando perguntei à rapariga ela já lá não estava, tinha desaparecido, e eu achei: aquilo foi um sinal. E fui a Medjugorje. E converti-me a Nossa Senhora», recorda.
A mensagem
Hoje, Manuel Arriaga tem a certeza das suas duas grandes dimensões, a da mãe de todos e que, como mãe de todos, escuta os pedidos dos seus filhos e lhes dá tudo e a da mãe de Jesus «que não só intercede por nós a Jesus, como nos leva [a Ele]». «Nossa Senhora é quem melhor me leva a Jesus», garante. E este peregrino só vê sentido para a vida na vontade de caminhar para ele, por isso, a Mãe é uma aliada que, ainda assim, tardou em reconhecer. «É o testemunho da estupidez humana. Eu tive que fazer 4000 km quando tinha aqui Fátima, que é um local extraordinário», assume.
Diz o ditado que «mais vale tarde do que nunca» e Manuel recuperou, em devoção e conhecimento, o tempo perdido. Este peregrino conhece a mensagem de Fátima, que continua atual e necessária «para este mundo» e isso é o que acaba por distinguir este altar dos outros. «Fátima é um altar de Nossa Senhora e qualquer altar de Nossa Senhora é bom. Para mim, a questão de Fátima é que tem uma mensagem para o mundo, para este mundo em que nós vivemos. Esta mensagem é muito para os tempos de hoje, nós estamos a viver um período terrível, e Fátima representa exatamente o rezar para voltarmos outra vez a Deus», considera.
Os Papas
Com 20 anos de caminhada peregrina, Manuel esteve com os três últimos Papas em Fátima e, embora tenha um carinho especial por Bento XVI, considera que o protagonismo destas visitas é do Papa e não deste ou daquele em específico. «Isto é o Papa, não é este Papa. E ser o Papa, para mim, é a Igreja reconhecer este sítio e estas aparições e reconhecer Fátima como algo que é muito importante.» Com uma visão virada para a Igreja, também não inflama a imaginação ao pensar na mensagem trazida por Francisco. «A mensagem do Papa não pode ser muito diferente daquela que tem de ser.» E também não se esquece de valorizar o papel que todos, para além do Papa, têm na vivência da mesma. «Somos filhos de Deus e, como tal, temos muita responsabilidade. Nós cristãos, temos que estar muito empenhados na cristianização do mundo, na paz do mundo.»
Peregrinar a vida
E tem uma convicção segura: um cristão, se não o é, deverá caminhar para ser um peregrino. «Nós temos que nos convencer que estamos aqui, a vida é uma coisa extraordinária, mas tem um objetivo, caminhar até Jesus.»
E o que é um peregrino? Manuel de Arriaga explica sem grandes elaborações, começando por aquilo que não é. «O peregrino não é aquele que anda. O peregrino é aquele que reza o seu caminho», sozinho com Deus, mas também em Igreja.