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Nossa Senhora na nossa História - seis alianças
06.05.2017
Enquanto Povo e Cultura, importa mergulhar nas nossas raízes e aí nos encontramos com a nossa História e com a nossa identidade. Podemos contar a História de Portugal a partir das suas seis Alianças com Nossa Senhora.

Primeira aliança: D. Afonso Henriques e o Mosteiro de Alcobaça.
Tal designação envolvia já a ideia da consagração de Portugal a Nossa Senhora pelo recém-nascido Portugal.
D. Afonso Henriques (1109-1185) recebeu com o sangue e bebeu com o leite materno a devoção a Nossa Senhora. Um documento proveniente do Mosteiro de Alcobaça faz constar que «El-Rei D. Afonso Henriques, logo, desde menino, foi posto debaixo do amparo da Bem-Aventurada Mãe de Deus, Senhora nossa, por cuja intercessão alcançou a saúde das pernas».
Mosteiro de Alcobaça
Reza, de facto a velha Crónica dos Senhores Reis de Portugal, que D. Afonso Henriques nasceu tolhido das pernas e que esse defeito se reportou humanamente incurável. De facto, «quando ele tinha cinco anos, apareceu Nossa Senhora a Egas Moniz e ordenou-lhe que fizesse escavações em determinado lugar, onde estava soterrada uma imagem sua e uma igreja que outrora tinham começado a construir em sua honra. Mandou, que orasse ali e colocasse o menino sobre o Altar, prometeu que ele ficaria curado e recomendou que o fizesse guardar cuidadosamente, porque seu Filho que, por ele, destruir os inimigos da fé».

Ainda antes de o rei de Leão reconhecer solenemente a D. Afonso Henriques o título de rei de Portugal, o nosso monarca consagrou o seu Reino à Virgem Maria, desde Logo considerada Padroeira de Portugal: «Desejando agora de ter também por advogada diante de Deus a Bem-aventurada Virgem, de consentimento de meus vassalos, os quais por seu esforço sem ajuda nem socorro estranho me colocaram no trono real, ordeno que eu, meu reino, minha gente, meus sucessores fiquemos debaixo da tutela e proteção, defensão e amparo da Bem-aventurada Virgem Maria... Portanto, a vós Virgem Mãe do meu Senhor Jesus Cristo..., eu, humildemente servo vosso, D. Afonso, rei de Portugal, vos peço que defendais meu reino dos Mouros, inimigos da Cruz de vosso Filho e conserveis minha coroa livre de sujeição estranha e corroboreis no trono real fiéis servos da minha geração.» (In História do Culto de Nossa Senhora em Portugal, A. Pimentel)

Os monumentos erigidos no país, em honra da Mãe de Deus, desde a Independência da Nação, são eco desta consagração:
– Santa Maria de Alcobaça é fruto de um voto de D. Afonso Henriques quando planeava a difícil conquista de Santarém.
– Santa Maria de Alcáçova, edificada em Santarém sete anos após a tomada desta cidade, recorda a façanha da conquista de Santarém, assumindo-se como ação de graças a Nossa Senhora.
– Nossa Senhora dos Mártires, D. Afonso Henriques eleva um templo em memória de Nossa Senhora dos Mártires, em tributo de gratidão à Virgem Santíssima, pelo auxílio prestado no combate travado nas proximidades de Sacavém, dias depois do cerco de Lisboa (cf. Duarte Nunes, Crónica d 'El Rei Afonso Henriques, A. Pimentel, 14-15, Lisboa, 1899). Dedicação da Catedral de Lisboa.
 
Segunda Aliança: D. João I, D. Nuno Álvares Pereira e o Mosteiro da Batalha.
O magnífico monumento da Batalha foi construído por D. João I (1385-1433), em cumprimento de um voto, que ele próprio havia feito, na manhã de 14 de agosto de 1385, aquando da famosa batalha que daria a Portugal uma das vitórias mais brilhantes da sua História. O monumento foi erigido em louvor de Nossa Senhora da Batalha ou da Vitória.

D. João I, com toda a família, era devoto da padroeira. A sua promessa, por ocasião da Batalha de Aljubarrota, consistiu em ir a pé, como peregrino, à Senhora da Oliveira, em Guimarães, e levantar o monumento da batalha. Sabemos que na hora decisiva da famosa batalha, o Mestre de Avis apregoava: «Em nome de Deus e da Virgem Maria, cujo dia de manhã é, sejamos todos fortes!» Os soldados, no próprio dia do combate, jejuaram em honra de Maria (Vigília da Assunção) e mostravam-se alegres e confiantes, em virtude de tudo esperarem da Virgem Santa Maria.

Mosteiro da Batalha
Por todo o Portugal, nomeadamente por todo o povo de Lisboa, enquanto o nosso exército se batia em campo de batalha, se cantava, em todas as Igrejas, a "Salve Rainha" e se faziam e prometiam procissões, em honra da carinhosa Padroeira de Portugal.

Com o autor do Santuário Mariano, julga-se, pelo menos possível, que todas as catedrais de Portugal foram dedicadas, no reinado de D. João I, a Nossa Senhora da Assunção, também em memória da gloriosa vitória de Aljubarrota e pela influência do Condestável D. Nuno Álvares Pereira (1360-1431). Há também quem defenda que as catedrais de Portugal foram consagradas, desde o tempo de D. Afonso Henriques, quando dedicava as mesquitas ao rito cristão, tratava-as sempre com o título de Nossa Senhora da Assunção.
 
Terceira Aliança: D. Manuel e as Descobertas, Nossa Senhora de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos.
Os primeiros navios de que conhecemos os nomes pertencem ao reinado de D. Dinis e chamavam-se Nossa Senhora, Santa Maria e Deus de Portugal.
A grandiosa obra dos Jerónimos é fruto de um voto de El-Rei D. Manuel I (1495-1521) e constitui um maravilhoso cântico de ação de graças a Nossa Senhora, pelo êxito magnífico dos nossos empreendimentos marítimos.

Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa
A grande gesta portuguesa, nos mares, foi a descoberta do caminho marítimo para a Índia. Santa Maria de Belém e os Jerónimos são a realização da promessa da aliança verdadeiramente assumida entre a Pátria e Nossa Senhora, Padroeira de Portugal.
 
Quarta Aliança: D. João IV e a Restauração – Santuário de Vila Viçosa.
No dia 19 de março de 1604, nasceu, em Vila Viçosa, o 8.º Duque de Bragança. Era a festa de São José. Nasceu na vila que guarda o Santuário de Nossa Senhora da Conceição.

Vila Viçosa
No dia 1 de dezembro de 1640, antes que se consumassem aos 60 anos dos Filipes em Portugal, era D. João, o 8.º Duque de Bragança, solenemente aclamado rei de Portugal.
D. João IV, o Restaurador, entrou em Lisboa no dia 6 de dezembro e, no dia 8, assistiu, pela primeira vez, na Capela Real, à festa da Imaculada Conceição. Pregou, nesse dia, Frei João de São Bernardino.

D. João IV repetiu o gesto da primeira aliança, realizada por D. Afonso Henriques, escolhendo, com os seus vassalos, a Imaculada Conceição para Padroeira Nacional:
«Estando ora junto em Cortes com os Três Estados do Reino, lhes fiz propor a obrigação que tínhamos de renovar e continuar esta promessa e venerar com muito particular affecto e solemnidade a Festa da sua lmmaculada Conceição – e nellas, com parecer de todos, assentámos de tomar por Padroeira de nossos Reinos, e Senhorios a Santíssima Virgem, Nossa Senhora da Conceição, na forma dos Breves do Santo Padre Urbano VIIL obrigando-me a haver confirmação da Santa Sé Apostólica.» (ln Provisão de 25 de março de 1646)
 
Quinta Aliança: A Real Ordem de Nossa Senhora da Conceição: O Santuário do Sameiro.
Num ambiente de nostalgia e interrogações face ao futuro da Coroa Portuguesa, D. João VI instituiu no Brasil, Rio de Janeiro, a Real Ordem de Nossa Senhora da Conceição, ainda hoje existente, a fim de homenagear a Padroeira Nacional por Portugal ter sobrevivido como nação independente, apesar das guerras napoleónicas.

Santuário do Sameiro
Em plenas dificuldades do séc. XIX, pelas quais a Igreja questionou a Modernidade, cf. Pio IX, Encíclica Quanta Cura e Syllabus, (08/12/1864-10.º aniversário da definição dogmática da Imaculada Conceição), foi proclamado em 8 de dezembro de 1854 o Dogma da Imaculada Conceição. Decorridos três anos e dois meses sobre a proclamação dogmática, Nossa Senhora aparece, em Lourdes, declarando-se, ela mesma, Imaculada Conceição.

Nos tempos difíceis do Liberalismo, o povo português renovou, 17 anos após as aparições de Lourdes, o seu voto de fidelidade a Nossa Senhora da Conceição, colocando espontaneamente no alto do monte do Sameiro, em Braga, a primeira pedra daquele que viria a ser o grande santuário do norte de Portugal, Nossa Senhora da Conceição do Monte Sameiro. Talvez desta renovada aliança feita pelo rei do Brasil e pelo povo de Portugal tenha brotado a gesta da evangelização portuguesa ad gentes, no Ultramar Africano Português, desde os finais do séc. XIX e por grande parte do séc. XIX.

 Santuário de FátimaSexta Aliança: Fátima, a resposta do Céu às Alianças de Portugal com Maria.
No turbulento ano de 1917, em plena Primeira Guerra Mundial, Nossa Senhora veio fazer uma aliança com a Terra de Santa Maria e o seu povo. Eis a resposta do Céu às constantes alianças do Povo português com a sua padroeira. A essa aliança compete da parte de Portugal proclamar a mensagem de penitência e oração e, da parte de Nossa Senhora, concretizar o triunfo do seu Imaculado Coração, no dom da paz para o mundo: «Portugal, convoco-te para a Missão», foi o desafio de João Paulo II (1978-2005), dirigido a Portugal, em 1991, para que em espírito de Nova Evangelização concretizemos a aliança que Nossa Senhora estabeleceu com os portugueses, em Fátima.

«Quem é esta, que avança como a aurora, formosa como a Lua, brilhante como o Sol, terrível como o exército em ordem de batalha?» É a Rainha de Portugal! É o Modelo e o Segredo da Alma Portuguesa! É a presença e a esperança permanente desde o berço de Portugal! É o Presépio, onde Portugal aprendeu a renascer das cinzas e das ruínas.
 
Texto de Pe. Francisco Senra Coelho, atual bispo auxiliar de Braga

Este texto foi publicado na edição da FAMÍLIA CRISTÃ de maio de 2013.
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