Conforme previsto e anunciado, o Santuário de Fátima rezou o Terço e fez a Procissão das Velas sem peregrinos ao redor da imagem de Nossa Senhora de Fátima. Junto da imagem, pouco mais de 10 sacerdotes, 21 fiéis com velas que lembravam as 21 dioceses de Portugal, os representantes das Províncias Eclesiásticas de Braga, D. Jorge Ortiga, Lisboa, D. Manuel Clemente, e Évora, D. Francisco Senra Coelho, que ladeavam D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima que preside a esta Peregrinação Aniversária de maio, compunham o corpo extremamente reduzido da Procissão das Velas.

O bispo de Leiria-Fátima pediu, e os peregrinos cumpriram. Apesar do pequeno incidente de dois peregrinos que tentaram chegar à Capelinha das Aparições e foram barrados pela GNR e seguranças do santuário, as centenas de milhares de peregrinos que todos os anos se dirigem para o Santuário de Fátima nesta data ficaram a ver as celebrações pela televisão e redes sociais, evitando que este evento pudesse ser «um agravamento da pandemia, a nível nacional», conforme disse na conferência de imprensa desta tarde D. António Marto.
Para além disso, foram várias as paróquias, espalhadas pelo país, que fizeram procissões com a Imagem de Nossa Senhora de Fátima colocada em cima de carros, a percorrer as ruas das suas paróquias, assim como milhares as partilhas, nas redes sociais, de imagens com velas à janela. Uma multiplicação de procissões que trouxe a tal noção de «manto de luz» que pedia o Santuário que fosse feito e cobrisse o país.

No recinto foram colocadas mil velas que rodeavam todo o espaço, e criavam um corredor por onde habitualmente a imagem de Nossa Senhora passa quando percorre todo o recinto. «Mil velas que lembram todos os peregrinos, os vivos e os defuntos, que foram vítimas da pandemia», disse D. António Marto na homilia da Celebração da Palavra que se seguiu à Procissão.
Nessa homilia, D. António Marto falou de uma «noite escura que pesa sobre o mundo abatido por uma pandemia global». «Fica connosco, Senhor, porque se faz noite», disse o Cardeal Marto por três vezes na sua homilia, uma invocação feita por todos os que vivem «uma noite escura da fé perante o aparente silêncio e ausência de Deus».
Apesar do recinto estar vazio de pessoas, o bispo de Leiria-Fátima garante que o espaço «não está deserto». «Ainda que separados fisicamente, estaremos todos aqui espiritualmente unidos como Igreja com Maria, de modo intenso, com o coração cheio de fé», afirmou.
O prelado lembrou ainda que a «simbólica» desta Peregrinação permite «percorrer a geografia espiritual que forma a multidão de devotos de Nossa Senhora de Fátima repartidos por todo o mundo», aqui simbolizados hoje pelas velas que representam as dioceses portuguesas e amanhã por um ramo de flores que representa «os nossos emigrantes e os peregrinos dos diversos continentes do mundo».
No final da homilia, recordou como a mãe de Jesus, que Ele nos entregou, «ilumina a noite do mundo» e é «estrela que orienta a navegação dos peregrinos da fé».

Depois da homilia, um gesto de lava-pés. O Pe. José Nuno, que orientou as celebrações, explicou que era «símbolo do acolhimento com que o santuário recebe e o alívio das dores e das feridas que podem trazer». «O Santuário de Fátima honra-vos e espera, como uma mãe espera a visita dos filhos à sua casa», declarou o sacerdote.
D. António Marto dirigiu-se a três peregrinos convidados para ali estarem, e sobre o pé de cada um deles despejou água e fez menção de lhes lavar os pés. Não tocou nos pés, por via das questões sanitárias, e ainda desinfetou as mãos no final do gesto, tudo gestos que se tornarão mais habituais nas nossas igrejas com o aproximar do fim do mês e o reinício das celebrações públicas.
A Peregrinação Aniversária de maio conclui-se amanhã com a oração do Terço pelas 09h e a celebração da eucaristia no recinto do Santuário pelas 10h.
Texto: Ricardo Perna
Fotos: Santuário de Fátima
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