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«O Papa quer despertar as pessoas do sono da mediocridade»
11.04.2018
O Pe. Miguel de Salis Amaral, especialistas nas questões da santidade, analisou para a Família Cristã a nova exortação do Papa Francisco, Alegrai-vos e exultai, sobre a santidade. O sacerdote português, a partir de Roma, fala de um documento «oportuno». «É um tema que, sendo conhecido e dado por sabido, não tem sido objeto de uma verdadeira atenção», diz, ele que é autor do livro «Concidadãos dos Santos e membros da família de Deus», da PAULUS Editora.

 
Não sendo um assunto novo, não traz propriamente novidades teológicas, mas o Pe. Miguel de Salis destaca o estímulo de «procurar a santidade hoje, no sítio em que vivemos e não em sonhos». «Tudo o que ele diz na exortação tem este sentido e deve ser lido por nós à luz desta sua intenção», afirma.
 
Afirmando que a exortação «faz lembrar várias vezes os exercícios espirituais de Sto. Inácio de Loyola», o Pe. Miguel chama a atenção para as duas vias da santidade que devem caminhar em conjunto, não separadas. «Chamou-me a atenção que o Papa diga que não há santidade sem oração, que é preciso lutar, discernir, que há obstáculos e perigos e que não vale a pena camufla-los, porque voltam sempre a aparecer e fazer-nos mal a nós e aos que estão à nossa volta. Também me chamou a atenção a insistência sobre a difusão da santidade através da missão e do amor fraterno. Se é verdade que não há santidade sem amizade com Deus, também é verdade que não há amizade com Deus se não houver amizade com os que estão à nossa volta (em primeiro lugar a família, mas depois os que trabalham connosco, as pessoas com quem nos relacionamos por diversas razões, etc)», sustenta.
 
Sobre as críticas que o Papa deixa ao gnosticismo e ao pelagianismo, o Pe. Miguel concorda e reforça os avisos deixados pelo Papa. «Faz muito sentido avisar dos perigos que corre cada católico no discernimento da sua missão nesta terra», diz o presbítero português. Até porque, na sua opinião, o gnosticismo «é o pior inimigo da fé e agradeço muito ao Papa que o mostre». «O gnosticismo vai emergindo com diversas manifestações em todos os séculos e tem sido o defeito mais persistente de toda a vida da Igreja», diz, acrescentando que as críticas ao pelagianismo são mais localizadas na igreja do Ocidente que propriamente na Igreja universal. O pelagianismo «é um inimigo mais localizado, pois acho-o mais típico do Ocidente e não muito presente nos cristãos orientais. Porém, também ele tem várias manifestações. Hoje, além disso, o estilo americano do "homem que se fez a si próprio e não deve nada a ninguém" invadiu todas as culturas e, quando é usado na vida espiritual, pode converter-se numa das manifestações de pelagianismo, como o Papa avisa na exortação», diz o Pe. Miguel de Salis.
 
O Pe. Miguel de Salis Amaral (foto de arquivo)Na exortação, o Papa refere que a santidade se estende a todos os cristãos e que, mesmo fora da Igreja, o «Espírito suscita sinais da sua presença», uma afirmação que pode ser mal entendida por alguns, que defendem rigidamente que fora da Igreja não há salvação. «Que a ação de Deus vai muito mais além dos limites visíveis da Igreja Católica é uma coisa muito sabida, já desde os tempos dos Padres da Igreja, que nunca usaram em termos rígidos o lema "fora da Igreja não há salvação" e reconheciam que Deus age também fora dos limites visíveis da Igreja», diz o Pe. Miguel.
 
Sobre o pouco mediatismo desta nova exortação, este sacerdote português não se mostra preocupado, pois a «reforma principal, a do coração», não se pode medir com «audiências, com estatísticas e sondagens, nem com grandes eventos». «Nós estamos habituados a ouvir o mal e as más notícias, às quais damos muita atenção mediática. Estamos menos habituados a considerar tantas coisas que correm bem cada dia, porque o metro funciona, porque a distribuição dos alimentos e mercadorias numa cidade funciona regularmente, porque na nossa rua não corremos o risco de morrer com uma bala perdida disparada por acaso, e assim por diante. Se aplicarmos esta imagem à Igreja, podemos dizer que há muita gente que está todos os dias a responder à voz de Deus, duma forma discreta, como pode e sabe – aquela "classe média da santidade" de que o Papa Francisco fala – e isso é o que marca a diferença na Igreja, embora não se note na imprensa», conclui o sacerdote.
 
Texto e foto: Ricardo Perna
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