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O significado profundo das revelações de Fátima
02.05.2017
Este texto foi escrito pelo beato Tiago Alberione (1884-1971) e publicado na edição de maio de 1967 da FAMÍLIA CRISTÃ, dedicada aos 50 anos das Aparições de Fátima. Alberione foi o fundador da Família Paulista e o Vaticano considera-o «um dos mais carismáticos apóstolos do Século XX». São João Paulo II assinou o decreto reconhecendo as virtudes heroicas de Tiago Alberione em 25 de junho de 1996. Ao texto original apenas se aplicou o acordo ortográfico e as regras do nosso livro de estilo.

A REVELAÇÃO VEM DE DEUS, e foi feita no período de tempo que decorreu desde a promessa do Redentor até à morte do último Apóstolo, S. João Evangelista. É divina; é de certeza absoluta; está depositada na Igreja, e por ela é interpretada e proposta a todos os homens: todos os homens têm obrigação de crer nela.

As revelações são, pelo contrário, manifestações privadas. São feitas a pessoas privadas, para vantagem sua ou de outros, e podem contribuir indiretamente para o bem de toda a Igreja. Por exemplo, as manifestações do Sagrado Coração de Jesus a Santa Maria Margarida Alacoque, as manifestações da Virgem Imaculada a Santa Bernardette, em Lourdes. Agora, temos a revelação do Sagrado Coração de Maria aos três pastorinhos de Fátima: Francisco, Lúcia e Jacinta.
Já se deram no ano de 1917; e este ano passa o 50.º aniversário, que é celebrado com cerimónias especiais.

Revelações privadas
As revelações privadas, quando são certas, devem ser cridas por aqueles aos quais foram feitas e por aqueles aos quais são dirigidas e para os quais foram feitas. Podem ser acreditadas por outros, desde que haja argumentos e provas certas do facto histórico. Há, na verdade, obrigação de crer quando consta moralmente que houve revelação de Deus, por dever de obediência à autoridade divina. Isto verifica-se, por exemplo, quando há milagres.

É claro que toda a revelação privada verdadeira deve estar de acordo com a doutrina da Igreja; e geralmente é feita a pessoas humildes e piedosas, traz vantagens espirituais ao menos a quem a recebe.
A manifestação de Fátima tem, em primeiro lugar, o timbre e o carácter sagrado da realidade. Toda a revelação privada verdadeira deve refletir em qualquer medida, mesmo pequena, os sinais bem claros, certos e sobrenaturais da revelação divina: dirige-se às almas simples, inocentes, virtuosas; convida a abandonar o pecado, chama à penitência, para estabelecer o reino de Jesus Cristo e de Deus e levar as almas a Deus e à salvação eterna. Maria Santíssima, nas diversas aparições, disse: «Quereis oferecer-vos ao Senhor, estais prontos a fazer sacrifícios e a aceitar de boa vontade todos os sacrifícios que Ele quiser mandar-vos em reparação de tantos pecados com os quais é ofendida a sua divina Majestade, para alcançar a conversão dos pecadores e em reparação das blasfémias e de todas as ofensas feitas ao Coração Imaculado de Maria?»
Lúcia respondeu por todos: – Sim, queremos!

Numa das aparições, Nossa Senhora mostrou por alguns momentos o Inferno aos três videntes, e depois disse: «Vistes o Inferno onde vão cair as almas dos pobres pecadores. Para os salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Coração Imaculado. Se se fizer o que vos disser, muitas almas se salvarão, e haverá paz. A guerra atual está para acabar (1914-1918); mas se não cessam de ofender Nosso Senhor, não passará muito tempo, no próximo pontificado (de Pio XI) começará outra muito pior... Para o impedir, virei pedir a consagração do mundo ao meu Coração e a Comunhão reparadora nos primeiros sábados do mês. Se atenderem os meus pedidos, a Rússia converter-se-á e haverá paz. Senão, uma propaganda ímpia difundirá no mundo os seus erros, suscitando guerras e perseguições à Igreja... Finalmente, o meu Coração triunfará.»
Jacinta, morta pouco depois das Aparições, pedia que se dissesse a toda a gente: «Deus concede as Suas graças por meio do Coração Imaculado de Maria; e quer que se peça a paz ao seu Coração Imaculado.»

A atualidade da mensagem
As manifestações de Fátima contêm ensinamentos de alto valor atual.
Foi em 1917, quando a primeira guerra mundial estava perto da sua fase conclusiva. A Humanidade recolhia os frutos da sua apostasia de Deus e do seu Cristo. Ninguém, no fundo, era vencedor; nem mesmo os que cantavam vitória. O mundo ensanguentado jazia debaixo de montões de misérias morais e materiais, ódios profundos como que gérmenes de próximos conflitos.
Hoje o horizonte está de novo coberto de densas nuvens, e a Humanidade vive numa ânsia contínua temendo o desencadear de tempestades ainda mais furiosas.

Quem nos salvará? Todos os meios humanos, pequenos e grandes, se devem usar; mas ao mesmo tempo é necessário pedir a intervenção divina. No fundo de todos os acontecimentos há sempre um movente e um problema moral-religioso, que ultrapassa os factos e os cálculos humanos. O reino de Cristo matura ao longo dos séculos. E é Maria que o prepara, como a mãe precede e apresenta o seu filho. Invoquemos Maria, supliquemos o seu Coração Imaculado para que tenha compaixão de tantos seus filhos, de toda a humanidade. A força não está toda nas armas: «O meu Coração Imaculado triunfará, mas por amor; o ódio não edifica.»

O ensinamento de Fátima é sempre atual: o caminho da paz e o regresso a Cristo por Maria; a penitência, a oração, a orientação na obediência ao Vigário de Cristo.
A consciência sofre uma enfermidade que se espalhou a quase todas as manifestações da vida moderna: a exteriorização, que significa ignorar a profundidade. O homem está doente de «ausência de Deus». Procurando sempre e só a novidade, o homem projeta-se para fora de si mesmo. Interessa-se por todos os problemas humanos, esquecendo o conceito fundamental da vida, perdendo de vista os cumes espirituais, para os quais a alma tende numa ânsia de conquista.
A luz nova, a orientação, o grande dom de Deus e do seu Cristo virão de Maria: de Maria virão como da sua contínua e própria Missão.
 
Tiago Alberione
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