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O silêncio de Fátima, agora com peregrinos
12.05.2021
Depois de um 13 de maio único na história do Santuário de Fátima, sem peregrinos, em virtude da pandemia que assola o mundo, o santuário voltou a celebrar aquela que foi a primeira aparição de Nossa Senhora aos pastorinhos com a presença de fiéis.


Foram 7.500 os peregrinos que as autoridades de saúde permitiram dentro do recinto do santuário, que costuma comportar 200 a 300 mil, com todas as medidas de segurança e distanciamento, mas mais algumas centenas ficaram “à porta”, juntas, sem distanciamento, mas com máscaras e poucas movimentações que eram controladas pelos guardas da GNR destacados para o efeito. Uma noite pacífica e tranquila, onde, ao silêncio da oração, se juntaram as vozes dos peregrinos que rezaram juntos o Terço e celebraram com o cardeal Tolentino Mendonça.
 
Presentes estiveram também mais 15 bispos, com destaque para as presenças de D. Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa, o núncio apostólico, D. Ivo Scapolo, D. Francisco Senra Coelho, arcebispo de Évora, e dos bispos de S. Tomé e Príncipe e Tete, em Moçambique. Mas as atenções estavam viradas para o cardeal Tolentino, que vinha, pela primeira vez, presidir a uma Peregrinação Aniversária enquanto cardeal.
 
Na sua homilia, o prelado destacou, como já tinha feito na conferência de imprensa da tarde, a necessidade de não deixar criar uma «crise de esperança», já que «precisamos da esperança para olhar mais para diante, para ganhar confiança e repartir». «Precisamos da esperança para nos unirmos mais, para construirmos sociedades eticamente qualificadas, sociedades que concretizem a justiça social e a fraternidade entre todos os homens», afirmou aos peregrinos ali presentes e aos milhares que acompanharam online ou através dos meios de comunicação social.
 
É por isso que diz que o peregrino não pode trazer apenas as suas necessidades, as suas orações, mas tem de trazer mais do que isso. «Queremos hoje pedir, Senhora de Fátima, que ilumines a dor de todos, sem fronteiras nem distinções, que ilumines a dor de próximos e distantes, de crentes e não-crentes, como se fosse uma só. Que escutes no silêncio desta noite a fadiga e o esforço, a solidão e as lágrimas, o cansaço e as necessidades de todos. Que veles pela grande família humana ferida. E nos mobilizes a todos para o desafio urgente de consolar, de cuidar e de reconstruir», afirmou.
 
Mas este não é apenas um tempo de «pedir», é também um tempo de «agradecer». «Pois se cada um de nós tem uma história de sofrimento para contar, tem também histórias de amor, de reencontro, de interajuda e solidariedade e essas histórias constituem um património que não podemos esquecer. A família foi colocada à prova, mas para muitos foi uma oportunidade para redescobrir o que significa estar em família e o tesouro humano insubstituível que a família representa. E não esquecemos o testemunho de quantos colocaram o bem dos outros acima do seu próprio bem. A generosidade de tantos que deram um passo em frente quando era mais cómodo permanecer no seu lugar. É verdade: de quantas histórias de amor cada um de nós tem sido testemunha», diz.
 
No final da homilia, o cardeal explicou que há que dar relevo às perguntas que surgiram no íntimo de cada um. «Perguntas sobre o sentido da vida, sobre o que é afinal o mais importante a salvaguardar, sobre mudanças de rumo a introduzir nas nossas vidas e nas nossas sociedades», afirmou, acrescentando que a pandemia «desinstalou» e veio levar-nos a «identificar o essencial com mais clareza».
 
A homilia concluiu com uma referência a Maria, que «abraça» a nossa realidade, «compreendendo tudo». «Difícil foi também o teu caminho, cheio de estorvos, batido por tempestades e dores. Mas através dele o teu olhar tornou-se num imenso regaço, onde podemos entregar esta estação que nos custa e que tu abraças, compreendendo tudo», concluiu.
 
A peregrinação aniversária prossegue amanhã com eucaristia na esplanada do Santuário de Fátima, a partir das 10h.



 
Texto: Ricardo Perna
Fotos: Ricardo Perna e Santuário de Fátima
 
 
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