«O verdadeiro desconfinamento é aquele que o amor opera em nós»
13.05.2021
Terminou hoje a Peregrinação Aniversária de maio no Santuário de Fátima. Depois de um ano sem peregrinos, este ano maio voltou a ter peregrinos no recinto do Santuário. Se dúvidas havia quanto à possibilidade de as pessoas não virem, ficaram desfeitas muito antes das celebrações iniciarem com o encerramento das portas, em virtude de se terem atingido os números máximos permitidos pelas autoridades de saúde. Foram 7.500 dentro do recinto, mas muitas centenas de fora, nas imediações, a espreitar para dentro, tristes por não poderem estar, mas tranquilas quanto à situação.
Não se registaram quaisquer incidentes, mesmo que hoje, dia 13, as portas tenham encerrado às 08h50, mais de uma hora antes do início da celebração. Os que ficaram de fora respeitaram todas as indicações, ficando no seu local, sem grandes cruzamentos de pessoas, mesmo que, em alguns pontos, as distâncias de segurança não tenham sido totalmente observadas, nomeadamente junto aos portões de entrada.
Lá dentro, foi com emoção que os peregrinos acolheram a imagem na peregrinação presidida pelo cardeal Tolentino Mendonça, e com mais emoção ainda que ouviram a mensagem do Papa Francisco, que falou da importância de Maria e de «pedir à Mãe pelo mundo inteiro... pois Ela é a Mãe de todos nós».
Na homilia, o Cardeal Tolentino assumiu-se como peregrino – ele que chegou a Fátima a pé, acompanhado de um grupo de famílias com quem caminhou os últimos quilómetros até ao santuário, e falou como tal. «Aquilo que experimentamos é que chegamos aqui inquietos, vazios, divididos, irreconciliados ou sedentos, que chegamos aqui aos trambolhões como o filho pródigo, e que Maria realiza em nós - com que misericórdia, com que inesquecível doçura - o mandato de amor que recebeu de Jesus: “Mulher, eis aí o teu filho”, “eis aí os teus filhos”», afirmou o prelado.
Antes, o arquivista do Vaticano falou sobre a pandemia e de como o verdadeiro desconfinamento é «aquele que o amor opera em nós». «Não basta voltarmos exatamente ao que éramos antes: é preciso que nos tornemos melhores. É preciso um suplemento de alma. É preciso que desconfinemos o nosso coração», pediu.
O cardeal madeirense não tem dúvidas que «garantir o pão» é um trabalho «urgente» e deve «mobilizar e unir as nossas sociedades», mas também avisa que as sociedades precisam de um «relançamento espiritual». «Sem o pão não vivemos, mas não vivemos só de pão. Os maiores momentos de crise foram superados infundindo uma alma nova, propondo caminhos de transformação interior e de reconstrução espiritual da nossa vida comum», sustentou.
Como tal, acredita que é momento de fazer uma «revisão crítica do caminho que realizámos até aqui, de fazer uma espécie de balanço interior que avalie os nossos estilos de vida, os modelos de desenvolvimento e a natureza das opções que nos têm conduzido». Isto porque «a experiência da pandemia não nos deu apenas uma consciência mais lúcida da nossa fraqueza. Ela tem deixado a claro aquelas que são as nossas maiores forças», afirmou.
E uma das maiores forças é a «fraternidade». «Não tenhamos dúvidas: a reconstrução pós-pandemia depende do modo como encararmos a fraternidade». E é também por isso que fala aos jovens, pedindo-lhes que, «em vez de ter medo, tenham sonhos». « Descubram que Deus é aliado dos vossos sonhos mais belos. Ousem sonhar um mundo melhor. Sintam que o futuro depende da qualidade e da consistência dos vossos sonhos», pediu.
Apesar da chuva, os peregrinos não arredaram pé do seu lugar marcado, e foi daí que assistiram, mais uma vez respeitando todas as indicações de segurança, uma constante nestes dois dias, à Procissão do Adeus, alguns de forma muito emocionada. Fátima volta a reunir-se à volta de Nossa Senhora daqui a um mês, no 13 de junho.