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O «visionário» que alertou para a luta contra o Mal
21.09.2016
Aos 91 anos de idade, o sacerdote paulista Gabrielle Amorth, um dos exorcistas mais conhecidos do mundo, faleceu, deixando atrás de si um legado enorme na área da luta contra o Diabo e o Mal.
O Pe. Duarte Sousa Lara, sacerdote português da diocese de Lamego, foi «protegido» do Pe. Amorth e durante dez anos teve a «sorte» de privar com ele e de aprender o seu ofício, passado de «mestre para aprendiz».

«Este é um ministério que passa de mestre para aprendiz, não é algo que se aprende com umas formações», explica-nos o sacerdote português, que, ao saber da morte do seu mestre, teve sentimentos divididos. «Por um lado, alguma alegria, porque ele foi um lutador até ao fim, por outro lado triste, porque era um amigo», diz o Pe. Sousa Lara à FAMÍLIA CRISTÃ. «Quando um bebé nasce, todos nos alegramos, mas ele vem a chorar, porque deixa o conforto da barriga da mãe. Quando uma pessoa morre, todos choramos, menos a própria pessoa, se for para perto de Deus. Ele, se ainda não está lá, lá chegará», acrescenta.
 
O legado do Pe. Amorth na área da espiritualidade é muito maior que as obras que publicou. «Quando ele começou o seu ministério, havia em Itália 30 exorcistas. Hoje, só no país, são 300. Tudo mudou por causa dele. Mesmo com alguns atritos, os bispos foram mudando» a sua perceção sobre o Diabo e a sua presença entre nós, afirma. O Pe. Sousa Lara destaca três aspetos na personalidade do Pe. Amorth que muito contribuíram para a obra que foi fazendo. «Ele era muito corajoso, porque falava sobre tudo; era didático, sabia explicar o que estava a dizer e as pessoas compreendiam; e tinha uma formação teológica muito forte, o que o tornava muito seguro de tudo o que dizia», considera o sacerdote português.
 
Quando assumiu a tarefa de auxiliar o Pe. Candido Amantini, percebeu que «teria muito trabalho, e tratou logo de começar a formar exorcistas». «Era um visionário que percebeu que as pessoas estavam a ficar abandonadas a elas próprias, e isso indignou-o, fê-lo mexer-se e agitar as águas», relembra o Pe. Sousa Lara. «Ele ajudou muita gente, o povo estima-o muito por isso. E não apenas as pessoas que ele ajudou diretamente. Graças aos seus escritos, são muitos os que hoje podem desempenhar o seu papel. Se não fosse ele, eu não seria exorcista, e os cerca de 200 casos que eu já ajudei até hoje não eram resolvidos. É um bem que se multiplica», explica o presbítero.
 
Referindo que «deu o melhor dele até ao fim», o Pe. Sousa Lara recorda o último encontro há dois anos, no congresso de exorcistas que aconteceu em Roma. «Há dois anos ele já estava muito debilitado, mas veio falar aos exorcistas na mesma. Foi muito comovente, animou-nos a rezar, insistiu na importância do Rosário e em termos fé de qualidade, não de quantidade». Também lembra o seu bom humor, «até durante os exorcismos, onde por vezes gozava com o Demónio», mas acima de tudo a sua inteligência e a sua dedicação. «Ele atendia quatro casos por manhã, naquela altura, e se havia alguma pessoa que cancelava ou se atrasava, ele tirava o terço do bolso e rezávamos. Nunca estávamos parados», graceja.
 
As orações no final dos exorcismos acabavam sempre com uma referência ao Beato Alberione, ele que era um sacerdote paulista. «É justo dizê-lo, porque muitos desconhecem, mas a sua identificação com o Beato Alberione era muito grande. Aliás, o seu ministério paulista esteve sempre visível nos muitos livros e textos que escrevia, pois nunca deixou de evangelizar pelos meios de comunicação». Como este último, que irá ser lançado em Portugal pela PAULUS Editora no final do próximo mês. «Ainda só o li na diagonal, mas gostei muito do que vi», confidencia o Pe. Sousa Lara, que irá apresentar a obra. «É o seu último legado», conclui.
 
 
Texto e fotografia: Ricardo Perna
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