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Onde está o nosso irmão?
16.05.2022
No final deste mês de maio, celebraremos a Solenidade da Ascensão do Senhor e, nesse dia, comemoraremos o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Este será o quinquagésimo sexto ano em que a Igreja assinala uma Jornada dedicada às Comunicações.

Na primeira Mensagem para assinalar este dia, São Paulo VI refletia sobre as «maravilhosas técnicas» da comunicação que permitiram que a convivência humana assumisse novas dimensões e escrevia que «o tempo e o espaço foram superados, e o homem tornou-se um cidadão do mundo». Na Mensagem para assinalar o Dia das Comunicações Sociais deste ano, o Papa Francisco fala dos efeitos e das potencialidades da comunicação enquanto fenómeno básico da nossa humanidade. No ano anterior escrevia «sobre a necessidade de “ir e ver” para descobrir a realidade e poder narrá-la a partir da experiência dos acontecimentos e do encontro com as pessoas». Numa sequência natural, como explica Isabel Figueiredo, diretora do Secretariado Nacional para as Comunicações Sociais da Igreja, no comentário que se pode ler nesta edição, o Santo Padre aborda o argumento da escuta, «decisivo na gramática da comunicação e condição para um autêntico diálogo».

O Papa diz que a «capacidade de escutar a sociedade é ainda mais preciosa neste tempo ferido pela longa pandemia». Entretanto, neste mundo, onde tudo acontece muito rápido, existem já muitas outras pandemias a infligir danos mortais no silêncio ensurdecedor dos escombros. É fundamental escutar os clamores de uma sociedade flagelada que, não podendo gritar, o Papa quis fazer eco na mensagem da bênção Urbi et Orbi da Páscoa de 2022.

Nas imagens difundidas para todo o mundo, pela primeira vez, em dois anos de pandemia, a Praça de São Pedro estava repleta de «gente»! Gente que queria escutar o Papa, e Francisco fez-se ouvir… Ouvimos aquilo que continuamos a negar, embora já o saibamos há tanto tempo! Também, nesta edição, um dos artigos obriga-nos a refletir sobre essa mesma inquietação: há «uma Terceira Guerra Mundial “aos pedaços”»?

Em pleno dia de Páscoa – «Páscoa de guerra» –, o Papa recordou-nos que «hoje mais do que nunca precisamos d’Ele, no termo de uma Quaresma que parece não querer acabar».

A Quaresma que nos vamos sujeitando uns aos outros. Quaresma que nos obriga a uma nova via-sacra, de um realismo impressionante, que Francisco meditou connosco, ao longo de vários minutos que, creio, dilaceraram o coração de todos os presentes naquela praça repleta e de todos os outros que se tornaram presente através de todos os meios de comunicação – esses meios que, como recordava São Paulo VI, possibilitaram ao homem tornar-se um cidadão do mundo!

Num mundo onde todos somos próximos, é impossível não sentir como nossas as dores de tantos conflitos! Começando pela «martirizada Ucrânia», o bispo de Roma apelou, ainda, para que houvesse «paz no Médio Oriente». Paz para Jerusalém e «reconciliação para os povos do Líbano, da Síria e do Iraque». Recordou também a Líbia, o Iémen, Myanmar e o Afeganistão. Não esqueceu o continente africano, «particularmente a região do Sahel», mas também a República Democrática do Congo e a África do Sul. E, por fim, recordou a América Latina.

Neste mundo que os meios de comunicação aproximaram, é inevitável que voltemos a sentir a inquietante pergunta de Deus a Caim: «Onde está o teu irmão?» (Gn 4,9). E, no final, não será Deus que terá de nos pedir perdão, seremos nós que havemos de pedir perdão a Deus, como intuiu Etty Hillesum, porque continuamos a não querer escutar o nosso irmão que sofre!