07.03.2022
A FAMÍLIA CRISTÃ, neste mês de março, apresenta a entrevista com o novo arcebispo primaz de Braga, D. José Cordeiro, que tomou posse da sede bracarense, no passado dia 12 de fevereiro. Antes de mais, queremos saudar o senhor D. José Cordeiro e desejar-lhe um frutuoso caminho no exercício do seu ministério, agora em terras bracarenses.
Valorizar o caminho da viagem, das várias viagens da vida! Embora se tenha tornando muito banal, não posso deixar de concordar com a frase do professor Eduardo Lourenço: «Mais importante que o destino é a viagem.»
Por definição, a Igreja é peregrina neste mundo. Também ela está em viagem. Embora o destino último deva ser o da Glória, e por conseguinte o mais importante, isto não deve significar o menosprezo da viagem e dos vários caminhos que se trilham. Sobretudo quando os caminhos desbravados podem ser mais importantes que os objetivos a que se propõem.
Penso, concretamente, no Sínodo dos Bispos com o lema «Igreja sinodal: comunhão, participação e missão». Não creio que devamos desvalorizar os caminhos abertos pelo novo itinerário aprovado pelo Papa Francisco em prol das conclusões que irão chegar ao Vaticano.
Em causa está a consultação do Povo de Deus em geral, que gerou muita expectativa e é sem dúvida uma grande oportunidade. Não obstante, uma avaliação preliminar dos trabalhos em vista ao Sínodo já apontam alguma «desconfiança entre os leigos que duvidam que o seu contributo venha realmente a ser tido em conta», bem como muitas reticências da parte do clero. Ou seja, muitas dificuldades.
Expectativas que contrastam ainda com realidades muito distintas nas várias dioceses do mundo. Em Portugal, a fase diocesana do Sínodo, não está a ter um grande impacto mediático nem nas massas. Ao contrário, na vizinha Espanha, chegam notícias de grandes “eventos” organizados para facilitar a escuta sinodal. O cardeal arcebispo de Madrid, D. Carlos Osoro, tem-se encontrado com importantes sectores da sociedade: políticos, artistas, professores universitários, jovens e empresários, a fim de abordar as preocupações das diversas realidades.
Questionado sobre o entusiasmo despertado pelo sínodo na Igreja portuguesa, a resposta do atual arcebispo de Braga foi, diria eu, profética. Chamando-nos à atenção para os novos caminhos de que este percurso sinodal pode ser promotor, além das avaliações e do documento final. D. José afirmou que o sínodo é «um processo. Se fosse um evento poderíamos provavelmente concluir» que as dificuldades já sentidas põem em causa o caminho sinodal, «mas isto é um processo, lento, em que o importante é que não desistamos».
Sem querer comparar realidades distintas nem tirar ilações precipitadas, o processo que a metodologia proposta pelo sínodo pode suscitar na Igreja é muito mais abrangente que a síntese que cada diocese pode enviar para Secretaria-Geral do Sínodo. O caminho novo desbravado pelas comunidades pode ser mais importante que as conclusões que cheguem ao Sínodo. Uma Igreja que se escuta e se coloca à escuta! E que não seja “uma vez sem exemplo”, mas que este caminho nos ajude a escutar sempre. Não desistamos de nos escutar!
Desde as bases, cada cristão, independentemente do seu estado jurídico (laical, religioso ou clerical), tem uma oportunidade se colocar à escuta do Espírito Santo e fazer-se escutar, sem ser criticado, condenado ou julgado. Por outro lado, os líderes dos vários movimentos paroquiais e eclesiais têm a oportunidade de escutar o que os outros sentem, e com isso ajustar dinâmicas, atividades e projetos.
Como afirma Francisco, na Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais, «também na Igreja há grande necessidade de escutar e de nos escutarmos». Este é o processo que pode iniciar com a metodologia do Sínodo e dar frutos a seu tempo. «Com efeito, a comunhão não é o resultado de estratégias e programas, mas edifica-se na escuta mútua entre irmãos e irmãs», concluía o Papa. Talvez, como na parábola de Marcos, esta seja a semente que foi lançada a terra, a semente germina e cresce sem nos darmos conta. (cf. Mc 4,24-27)