05.07.2022
Com as férias a aproximarem-se, muitos já adquiriram viagens de avião para destinos mais próximos ou longínquos, para ir descansar ou visitar família e amigos. Depois de fortes restrições associadas à pandemia, prevê-se que os voos e passageiros transportados este verão se aproximem ou mesmo ultrapassem os valores de 2019. É certo que há destinos nacionais onde a viagem de avião é praticamente a única possibilidade de deslocação, como sejam os Açores e a Madeira. Também para o resto da Europa, sem ligações diretas a Madrid ou Paris por ferrovia como existiam antes da pandemia, a melhor alternativa sem recorrer ao avião é o autocarro, mas com uma duração de viagem bem longa.
A aviação europeia tem um problema climático crónico: entre 2005 e 2019, o tráfego aéreo cresceu 67% e as suas emissões de dióxido de carbono aumentaram 24%. A menos que sejam tomadas medidas desde já, as emissões da aviação deverão crescer mais 38% até 2050, mesmo com melhorias de eficiência das aeronaves.
Quando encontramos bilhetes de avião a preços muito atrativos devemos perceber que tal se deve a uma enorme subsidiação deste setor: ao contrário do uso do transporte rodoviário ou da ferrovia, não se paga nem ISP (Imposto sobre os Produtos Petrolíferos) nem IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado) no combustível usado (o denominado jet-fuel). Também o preço dos bilhetes não é sujeito a IVA, exceto nas viagens nacionais no continente. Quanto às emissões de gases de efeito de estufa causadoras do aquecimento global, não há quaisquer custos associados, exceto numa pequena fração dos voos europeus.
Apesar de uma taxa de carbono de dois euros por passageiro, estamos muito longe de compensar os impactos ambientais e climáticas dos voos. Efetivamente, além do dióxido de carbono emitido pela queima de combustível, o facto de essa emissão ter lugar a elevada altitude tem um impacto acrescido no aquecimento da atmosfera. Depois, existe todo um enorme conjunto de consequências que vão desde a emissão de outros gases e de partículas ultrafinas, estas capazes de afetar fortemente a saúde nos locais próximos dos aeroportos. O ruído é talvez um dos problemas mais significativos, com enormes consequências para a saúde principalmente pela perturbação do sono e do trabalho, com agravamento do stresse e doenças cardiovasculares que, no limite, causam a morte.
Reduzir as viagens de avião, promover o transporte ferroviário eficiente a distâncias de várias centenas de quilómetros, pagar um custo justo pelos danos ambientais associados, tomar medidas de minimização dos impactos junto aos aeroportos, como o isolamento de edifícios, incluindo a proibição de voos noturnos, são ações fundamentais.