O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, deu início hoje aos trabalhos da 199ª Assembleia Plenária da CEP, a primeira que se reúne «de forma parcialmente presencial, mas maioritariamente em ligação digital», considerando a «preocupante situação de pandemia em que se encontra o país e o mundo» que leva a «redobrados cuidados da parte de todos».

No discurso de abertura da assembleia, D. José Ornelas aponta para a necessidade de «projetar o futuro pós-pandémico», uma preocupação que teve início na assembleia de junho e que agora terá continuidade. «Precisamos urgentemente de vacinas e de tratamentos eficazes, mas não somos apenas organismos doentes do coronavírus. Somos pessoas que precisam de integrar o sofrimento, os esforços e sacrifícios e a beleza dramática da solidariedade num sentido de viver num caminho de futuro», referiu o presidente da CEP, que é também bispo de Setúbal.
Na sua opinião, é importante que «não amanheçamos um dia apenas curados, exaustos e vazios da pandemia, e naturalmente sedentos de voltar sôfregos e saudosos ao que já era». «Tanto sacrifício, tanta luta e tanta vontade de ajudar e mesmo tantos erros e atitudes irresponsáveis não podem simplesmente ficar escritos nas páginas dum livro que se fecha e arquiva, ou numa página das redes sociais onde a memória recusa fazer um clique. Devem desabrochar num mundo, numa sociedade, numa economia, numa Igreja mais solidários, mais atentos, com mais esperança», pede o prelado.
Por isso, defende que «temos de voltar a socializar, temos de voltar às nossas igrejas, mais humanos, mais fraternos, mais crentes e consequentes ao Deus que caminha com a humanidade, sempre atento aos mais frágeis e sempre promotor de renovação e de esperança».
A situação grave do país é motivo para nova crítica ao processo de legalização da eutanásia. À semelhança do que já tinha feito na assembleia anterior, D. José Ornelas critica os timings em que se está a trabalhar nesta legislação, quando o país está a «ajudar a viver». «No meio dos sacrifícios e esforços das instituições e pessoas, a começar pelo Serviço Nacional de Saúde e pelos profissionais que têm sido de uma abnegação que ficará na memória e no coração de todos nós, (...) não encontro lógica no facto de se escolher precisamente este momento para dizer aos que tocam o mais fundo da dor e do abandono: “tem coragem, ajudamos-te a morrer; estamos a caminho de aprovar uma opção que aceita a tua eutanásia”», criticou.
Afirmando que respeita «profundamente o drama de quem sofre», o presidente da CEP refere que «não são as soluções facilitadoras e “legalizadas” que ajudarão a criar uma sociedade mais humana», pois «o que é preciso é acompanhar e oferecer condições e razões para viver». «Que se tenha retomado esta iniciativa precisamente neste momento e se tenha negado a discussão pública integrada num pronunciamento da vontade do povo, em assunto tão importante e fraturante, não abona a nossa democracia nem a promoção de uma cidadania que se quer participativa e interventiva», sustentou.

Antes de concluir, lembrando os dois bispos de Viana do Castelo que faleceram recentemente e a celebração pelas vítimas da pandemia de sábado, que não irá ter todas as pessoas que estavam planeadas, mas que irá acontecer na mesma, D. José Ornelas recordou os atentados das últimas semanas na Europa, «a todos os títulos condenáveis». Estes, «para além do que possam ser as motivações daqueles que os praticam, bem como as densas nuvens de conflitualidade internacional que pairam sobre as relações políticas e económicas entre as nações, sublinham a necessidade de uma renovação e não seja simplesmente o regresso à “normalidade de sempre”».
A Assembleia Plenária da CEP decorre até sábado, dia em que se celebrará, na Basílica da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima, uma missa em memória de todas as vítimas da pandemia, com a participação dos bispos portugueses, presidida ppelo presidente da CEP.
Texto: Ricardo Perna
Fotos: Agência Ecclesia
Continuar a ler