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Papa abre a porta à reflexão sobre ordenação de homens casados
28.01.2019
O Papa Francisco afirmou-se contra o celibato opcional, mas abriu a porta à reflexão sobre a possibilidade de, em situações onde haja falta de sacerdotes, conceber a ordenação de homens casados. O Papa falava aos jornalistas na habitual conferência de imprensa no voo papal de regresso do Panamá, onde esteve a participar na Jornada Mundial da Juventude.


Francisco citou o Pe. Lobinger, teólogo, que avançou com a possibilidade de ordenar homens apenas com o munus sanctificandi, um dos três que cada sacerdote recebe na sua ordenação. «Lobinger diz: poderia-se ordenar sacerdote um idoso casado, esta é a sua tese. Mas que exerça apenas o munus sanctificandi, isto é, celebre a missa, administre o Sacramento da Reconciliação e dê a unção dos enfermos. A ordenação sacerdotal dá os três munera: o munus regendi (o pastor que guia), o munus docendi (o pastor que ensina) e o munus sanctificandi. O bispo só lhe daria a licença para o munus sanctificandi. Esta é a tese, o livro é interessante e talvez isso possa ajudar a responder o problema», afirmou o Papa aos jornalistas.

Francisco confirma que esta é «uma questão em discussão entre os teólogos, não é uma decisão minha», mas mostra a sua concordância com a abertura dessa possibilidade, afirmando que «o tema deve ser aberto nesse sentido para os lugares onde existe um problema pastoral, por falta de sacerdotes», e citou o exemplo de um bispo que pertencia à Secretaria de Estado. «Estava a conversar com um oficial da Secretaria de Estado, um bispo que teve que trabalhar num país comunista no início da revolução, e quando viram como essa revolução chegava nos anos 50, os bispos ordenaram secretamente camponeses, bons e religiosos. Depois que a crise passou, trinta anos depois, a coisa resolveu-se. Ele contou-me a emoção que sentiu quando, numa celebração, viu esses camponeses com mãos de camponeses colocarem as suas vestes para concelebrar com os bispos. Na história da Igreja isso verificou-se. É algo a ser pensado e sobre o qual rezar», sustenta.

Apesar disto, afirmou aos jornalistas que «não digo que deve ser feito, não refleti, não rezei o suficiente sobre isso. Mas os teólogos debatem sobre isso, devem estudar», defendeu.

A abertura do Papa a esta possibilidade surgiu no seguimento da pergunta sobre a possibildiade da instituição do celibato opcional, à semelhança do que aocntece nas igrejas de rito oriental, hipótese que foi completamente colocada de lado por Francisco. «Pessoalmente, penso que o celibato seja um dom para a Igreja e não concordo em permitir o celibato opcional», disse, embora acrescentando que «permaneceria alguma possibilidade nos lugares mais distantes, penso nas ilhas do Pacífico, mas é algo em que pensar quando há necessidade pastoral», citando o Papa Paulo VI, que afirmou, no final dos anos 60, que «prefiro dar a vida antes de mudar a lei do celibato», posição que Francisco classificou de «corajosa», por ter sido pronunciada num momento «mais difícil que o atual».
 
Texto: Ricardo Perna
Foto: Vatican News
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