O Papa Francisco associou-se à Peregrinação Aniversária de outubro no Santuário de Fátima com uma mensagem vídeo que foi passada nos ecrãs gigantes espalhados pelo Santuário. O Papa esteve em maio no nosso país e não quis deixar de estar presente de alguma forma agora que se encerram as comemorações do Centenário das Aparições de Nossa senhora de Fátima aqui, na Cova de Iria.
O Papa disse aos peregrinos que «trago ainda no meu coração a memória da viagem e as bênçãos que a Virgem me quis dar e à Igreja nesse dia», e exortou-os a nunca se esquecerem de Maria, que é «mãe». «Ide em frente e nunca vos afasteis da Mãe. Como uma criança que está junto a sua mãe e se sente segura, assim também nós ao lado da Virgem nos sentimos muito seguros. Ela é a nossa garantia», afirmou.
Depois, e para gáudio de todos os peregrinos, puxou de um Rosário que tinha no bolso e pediu que «nunca deixeis o Rosário. Rezai o Rosário, como ela pediu», a que todos os peregrinos responderam com uma enorme salva de palmas.
Foi o final perfeito para uma peregrinação que juntou dezenas de milhares de peregrinos ontem, para a Procissão das Velas, e hoje, na eucaristia de encerramento da peregrinação. Mesmo sendo dia de semana, os peregrinos praticamente esgotaram o espaço disponível no recinto do Santuário, vindos de 45 países, para além de Portugal. O número de sacerdotes foi o mais elevado de sempre em perergrinações aniversárias, com 1070 sacerdotes a concelebrar juntamente com 36 bispos, não só portugueses, mas de outros países que estavam a acompanhar peregrinações.
D. António Marto pede que ninguém passe «indiferente ao mal» e ao que ele provoca
Na homilia da eucaristia que encerrou a peregrinação, D. António Marto falou da novidade de Fátima, mesmo passados 100 anos dos acontecimentos na Cova de Iria. Afirmando que Maria sabe que, «se Deus é grande, também nós somos grandes», o bispo de Leiria-Fátima afirmou que «nesta época em que estamos a viver uma certa indiferença religiosa, uma espécie de eclipse, ocultamento cultural de Deus, Maria convida-nos hoje a descobrir o gosto e o encanto de Deus e da sua beleza, a proclamar como Deus é grande».
O prelado português defendeu que a «grande prioridade para o futuro da fé cristã» é «tornar Deus presente, próximo e íntimo ao coração humano». Nesse sentido, defendeu que «a misericórdia de Deus é mais poderosa que a força do mal», e personificou este mal que afeta a sociedade. «Não se pode passar indiferente ao mal (...). Há que reparar o que ele estraga, reconstruir o que ele destrói nos corações e nas relações com Deus, com os outros, com a sociedade e entre os povos», pediu.
A concluir, citou o Papa Paulo VI que, há 50 anos, fez aqui um apelo «aos homens de todo o mundo», um apelo «atual, hoje que persistem as tensões entre as grandes potências, continuam os conflitos configurando uma “terceira guerra mundial em episódios», alastra o terrorismo e a ameaça nuclear é tão aguda como então». Na altura, o Papa Paulo VI pediu que os homens não pensassem em «projetos de destruição e de morte», mas se ocupassem de «projetos de conforto comum e de colaboração solidária», e que se aproximassem uns dos outros com «intenções de construir um mundo novo».
Uma bênção dos doentes muito sentida
Na habitual bênção dos doentes, D. António emocionou-se ao falar para aqueles que sofrem com a doença. «Muitas vezes me comovi porque me senti fortalecido pelo testemunho de uma fé vivida no sofrimento, porque me senti amparado pela oração e entrega de vida de tantos e tantos. Muitas vezes me senti interrogado porque é que aquele sofrimento calhou àquele ou àquela e não a mim», confidenciou o prelado.
O bispo de Leiria-Fátima disse que já várias vezes queria ter «agradecido» aos doentes o quanto «sustentais a igreja», mas que não o fez porque «faltavam-me as palavras». Mas hoje deixou uma palavra de «gratidão» e outra de «encorajamento», para todos os que se sentem sós na sua doença.
O bispo de Leiria-Fátima afirmou que «a maior esperança de Fátima» é saber que «o coração imaculado da Mãe não deixa que o sofrimento e a solidão sejam vividas como abandono». Palavras muito sentidas, seguidas de um silêncio emocionado, antes de prosseguir a pedir «ao Senhor que a bênção que ele deu ao mundo há 100 anos na visão do milagre do sol, desça hoje sobre o teu corpo [de cada um dos doentes], coração, mente e alma, e te infunda a paz e a fortaleza que ele prometeu».