O Papa anunciou uma redução de 10%, por tempo «indeterminado», nos salários dos cardeais no Vaticano, como forma de responder à crise económica provocada pela pandemia. A decisão é anunciada através de uma carta apostólica (motu próprio) sobre a «contenção da despesa para o pessoal da Santa Sé, do Governatorado do Estado da Cidade do Vaticano e entidades relacionadas».

Os cortes salariais alargam-se aos outros responsáveis dos organismos centrais de governo da Igreja Católica que sejam clérigos ou membros de institutos religiosos: menos 8% para os chefes e dos secretários de dicastérios; 3% para os clérigos e religiosos.
As medidas congelam durante dois anos a progressão salarial por tempo de serviço para todos os funcionários – exceto os leigos que se encontrem abaixo do quarto nível de remunerações. «Um futuro economicamente sustentável exige hoje, entre outras decisões, a adoção de medidas relativas à remuneração de funcionários», refere Francisco.
O Papa sublinha que as medidas visam «salvaguardar os atuais postos de trabalho», pelo que a contenção de despesas vai seguir «critérios de proporcionalidade e progressividade».
Há dias, na apresentação do Orçamento da Santa Sé para 2021, o Pe. Juan Antonio Guerrero, responsável pela Secretaria para a Economia da Santa Sé, sublinhava que «as despesas previstas são as mais baixas da história recente» mas evitam qualquer corte de serviços, ordenados ou reestruturação de pessoal. «As poupanças foram feitas sem diminuir o serviço à missão do Papa e defendendo os salários e empregos dos funcionários. Precisamos do apoio dos fiéis», assinalava o sacerdote jesuíta, que Francisco chamou para Roma para liderar a Secretaria para a Economia.
O Orçamento do Vaticano para 2021 projeta um total de 190 milhões de euros em receitas próprias e 47 milhões do Óbolo de São Pedro e fundos dedicados, que pela primeira vez são integrados neste orçamento, num esforço de transparência, informa a Santa Sé. Quanto às despesas, prevê-se que sejam 284,9 milhões despesas operacionais e 17 ligadas ao Óbolo de São Pedro e fundos dedicados. «A redução total de despesas previstas é de 8%. Se excluirmos as despesas com os funcionários, que não reduzimos porque a proteção dos empregos e salários tem sido uma prioridade, a redução seria de 15%», indica o prefeito da Secretaria para a Economia.
No total, o orçamento da Santa Sé prevê um resultado operacional negativo de 64 milhões e um resultado financeiro com lucros de 14,3 milhões, com um balanço final de 49,7 milhões de euros de défice.
O decreto publicado pelo Papa alerta para o «défice que há vários anos caracteriza a gestão económica da Santa Sé» e para a situação criada pela pandemia, «que afetou negativamente todas as fontes de rendimento da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano».
As medidas entram em vigor a 1 de abril, abrindo exceções no caso de um funcionário ter «despesas fixas relacionadas com o seu próprio estado de saúde ou o de parentes até ao segundo grau» a que seja «impossível atender» sem o atual rendimento. As disposições do Papa aplicam-se ao Vicariato de Roma, aos cabidos das Basílicas Papais e à Fábrica de São Pedro. O Vaticano assegura todas as despesas relacionadas com a vida e atividades dos Papas, mas estes não recebem qualquer salário.
Texto e foto: Ricardo Perna (com Agência Ecclesia)
Continuar a ler