
O Papa Francisco afirmou hoje no Vaticano que a Igreja Católica tem de ouvir os jovens e estar ao seu lado, com abertura e interesse pela sua vida. «Gostaria de dizer aos jovens, em nome de todos nós, adultos: desculpai, se muitas vezes não vos escutamos; se, em vez de vos abrir o coração, vos enchemos os ouvidos», sublinhou, na homilia da Missa que marcou o encerramento solene da 15.ª assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos.
O encontro, dedicado ao tema ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’, começou a 3 de outubro e contou com a participação inédita de mais de três dezenas de jovens convidados; foi também o primeiro a utilizar o português como língua oficial, nos trabalhos.
Simbolicamente, a Missa de hoje começou com uma procissão liderada pelos jovens convidados que participaram na assembleia sinodal. «Como Igreja de Jesus, desejamos colocar-nos amorosamente à vossa escuta, certos de duas coisas: que a vossa vida é preciosa para Deus, porque Deus é jovem e ama os jovens; e que, também para nós, a vossa vida é preciosa, mais ainda necessária para se avançar», referiu o Papa.
Perante centenas de pessoas reunidas na Basílica de São Pedro, Francisco apresentou esta manhã uma reflexão sobre «três passos fundamentais no caminho da fé», a começar pelo «apostolado do ouvido», ou seja, «escutar, antes de falar».
Francisco propôs uma Igreja «próxima» da vida dos jovens, propondo mais do que «formulações doutrinárias» ou ativismos sociais. «Não podemos ser doutrinaristas ou ativistas; somos chamados a levar para a frente a obra de Deus segundo o modo de Deus, na proximidade: unidos intimamente a Ele, em comunhão entre nós, próximo dos irmãos», precisou.
No final de mais de 25 dias de trabalhos, o Papa sustentou que a Igreja deve rejeitar a «tentação das receitas prontas» e da indiferença. «Interroguemo-nos se somos cristãos capazes de nos tornar próximo, capazes de sair dos nossos círculos para abraçar aqueles que ‘não são dos nossos’ e a quem Deus ansiosamente procura», pediu.
A intervenção propôs que as comunidades católicas partam ao encontro de quem sofre, com uma mensagem de fé e não apenas como uma «ONG, uma organização para-estatal». «Quantas vezes as pessoas sentem mais o peso das nossas instituições que a presença amiga de Jesus», advertiu.
O Papa concluiu com o agradecimento a todos os que participaram neste «caminhar juntos”, o significado de Sínodo (palavra de origem grega), realçando que nestes dias se trabalho “em comunhão e com ousadia, com o desejo de servir a Deus e ao seu povo».
«Que o Senhor abençoe os nossos passos, para podermos escutar os jovens, fazer-nos próximo e testemunhar-lhes a alegria da nossa vida: Jesus», desejou.
Papa destaca «modo de ser em trabalhar em conjunto» do Sínodo
O Papa afirmou hoje que o resultado principal do Sínodo dos Bispos não é a redação de um documento conclusivo, mas o “modo de ser e trabalhar em conjunto”, capaz de fazer propostas em sintonia com a realidade.
«É importante que se difunda um modo de ser e trabalhar em conjunto, jovens e anciãos, na escuta e no discernimento, para procurar escolhas pastorais em sintonia com a realidade», afirmou no Papa na alocução do ângelus, na Praça de São Pedro, após ter presidido à Missa de encerramento do Sínodo dos Bispos.
Desde o dia 3 de outubro, decorreu no Vaticano o Sínodo dos Bispos sobre o tema ‘Os jovens, a fé e o discernimento vocacional’, envolvendo mais de 400 pessoas e que contou com a participação inédita de mais de três dezenas de jovens convidados.
O Papa defendeu que «o primeiro fruto desta a assembleia sinodal deve estar antes de tudo no exemplo», um método seguido deste a fase preparatória, marcado pela escuta e pelo envolvimento dos jovens.
Francisco defendeu um «estilo sinodal» que não tenha como «objetivo principal a redação de um documento», considerando o valor «precioso e útil» da proposta de conclusões.
O Papa disse que que as semanas do decorrer dos trabalhos sinodais foram de «um tempo de consolação e de esperança», valorizando a escuta que aconteceu durante o Sínodo. «Escutar exige tempo, atenção, abertura da mente e do coração. Mas este empenho transforma-se todos os dias em consolação, sobretudo porque tínhamos no meio de nós a presença viva e estimulante de jovens, com as suas histórias e os seus contributos», afirmou.
«A realidade multiforme das novas gerações entrou no sínodo», disse o Papa aos peregrinos e turistas presentes na Praça de São Pedro que, apesar da intensa chuva, aguardaram a chegada de Francisco à janela do Palácio Apostólico. «Vimos a realidade, os sinais do nosso tempo», disse o Papa.
Francisco acrescentou que «os frutos deste trabalho estão já a fermentar», procurando agora continuar a «caminhar em conjunto, através de tantos desafios», nomeadamente «o mundo digital, o fenómeno das migrações, o sentido do corpo e da sexualidade, o drama das guerras e da violência». «O sínodo dos jovens foi uma boa vindima, que promete um bom vinho», defendeu o Papa.
A reportagem no Sínodo dos Bispos é realizada em parceria para a Família Cristã, Agência Ecclesia, Flor de Lis, Rádio Renascença e Voz da Verdade, com o apoio da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.
Texto: Paulo Rocha e Octávio Carmo
Fotos: Ricardo Perna
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