O Papa Francisco esteve esta noite de sexta-feira com os jovens que participam na Jornada Mundial de Juventude a percorrer os caminhos da Via Sacra de Jesus. Um momento de oração e reflexão que foi sentida e partilhada por todos os participantes em clima de silêncio, apenas cortado pelas palmas no final da intervenção do Papa.

Antes, a Via Sacra lida em diferentes línguas permitia a oração por todos os povos em dificuldade, e por todos aqueles que lutam para mudar de vida e se aproximarem mais de Deus. Desta vez não houve referência direta aos muros, mas a sexta estação da Via Sacra falava que a dor que Jesus tinha sofrido na flagelação e na coroa de espinhos pode ser encontrada na «dor dos migrantes e na angústia dos refugiados». «Ele mesmo sentiu os passos daqueles que, ontem e hoje, brutalmente perseguem aqueles que, não só perderam tudo, mas também sentem como as fronteiras e portas lhes são fechadas, como as linhas que delimitam os países se tornam coroas com espinhos afiados que ameaçam, desprezam e rejeitam tantos irmãos».
No final da Via Sacra, o Papa falou. Mas não começou por se dirigir aos jovens, mas antes a Deus. Com Ele, refletiu sobre tudo o que faz com que a Via Sacra de Cristo se prolongue aqui na terra, e referiu que Deus se une «à “via-sacra” de cada jovem, de cada situação para a transformar numa via de ressurreição».
Elencando todas as áreas em que a Via Sacra de Jesus se prolonga hoje na terra, o Papa falou no aborto e «no grito sufocado das crianças impedidas de nascer», nas mulheres «exploradas e abandonadas», na falta de trabalho que atinge os jovens e naqueles que são vítimas de «pessoas sem escrúpulos – entre elas, encontram-se também pessoas que dizem servir-Vos, Senhor», numa clara alusão aos casos de abusos de menores por parte do clero.
Depois, o Papa passa pelo flagelo da droga, do álcool e do «conformismo», que Francisco descreve como sendo «uma das drogas mais consumidas do nosso tempo».
No final, explicou que esta Via Sacra se prolonga ainda «no grito da nossa mãe Terra, que é ferida nas suas entranhas pela contaminação da atmosfera, a esterilidade dos seus campos, o lixo das suas águas, e se vê espezinhada pelo desprezo e o consumo enlouquecido que ignora razões» e «numa sociedade que perdeu a capacidade de chorar e comover-se à vista do sofrimento».
Para todos estes problemas, o Papa Francisco pede uma Igreja «que apoia e acompanha, quer sabe dizer: estou aqui, na vida e nas cruzes de tantos cristos que caminham ao nosso lado».
Utilizando o exemplo e a força de Maria, Francisco fala de uma «Igreja que favoreça uma cultura que saiba acolher, proteger, promover e integrar; que não estigmatize e, menos ainda, generalize com a condenação mais absurda e irresponsável que é ver todo o migrante como portador de mal social».
Uma Igreja que, conclui, com Maria, aprenda a «estar».
No final da mensagem, o Papa deu a bênção e retirou-se. A festa, essa, continuou com os jovens.
Texto: Ricardo Perna
Fotos: Miguel Sinclari | Jornada Mundial da Juventude
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