Presidente elogia papel das instituições sociais da Igreja
13.09.2016
O presidente da República tinha previsto abrir os trabalhos do XXX Encontro da Pastoral Social, mas uma alteração de agenda de última hora impossibilitou Marcelo Rebelo de Sousa de estar presente em Fátima, onde cerca de 300 pessoas discutem a encíclica do Papa, Laudato Si, no âmbito do Ano da Misericórdia.
Para colmatar a sua ausência, o presidente português enviou um vídeo no qual afirma que a Doutrina Social da Igreja (DSI) esteve na génese da Constituição Portuguesa, «nomeadamente na questão da dignidade humana». Neste sentido, Marcelo chamou a atenção «para a importância da pastoral social num período que se qualifica como saída da crise». «Se durante a crise foi importante, seria ilusório pensar que a preocupação se esbate na saída da crise, porque a saída não será igual para todos», avisa.
O presidente da República considerou que os próximos tempos, que se esperam de saída da crise, levantam «desafios» que serão «discutidos por vós em vários domínios, onde se continuará a sentir uma necessidade de aplicação dos princípios doutrinários da DSI a esta sociedade». Neste sentido, reservou uma «palavra especial» às instituições ligadas à Igreja Católica que, no terreno, «garantiram que a crise fosse um pouco menos dura do que poderia ter sido, e que irão garantir que a saída é melhor para os milhões de portugueses que estão em situação precária». «O Presidente da República acompanha as vossas preocupações e reflexões, está atento ao contributo e agradece-o em nome de Portugal», concluiu.
Bispos falam de inovação na ação social
A abertura dos trabalhos ficou a cargo de D. Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca de Lisboa, e D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.
D. Manuel Clemente elogiou a escolha do tema para este encontro, e destacou o número 111 da encíclica para falar de alguns dos pedidos do Papa Francisco. «Vivemos muito do expediente, do que a necessidade imediata impõe, mas precisamos de uma cultura que dê uma visão global da humanidade», começou por dizer o Cardeal-Patriarca, adiantando que é também importante ter um «olhar mais profundo e humanizador, em vez de uma técnica» fria e sem olhar à pessoa. Isto só será possível, argumenta, se olharmos para o «sistema» em que estamos inseridos de uma forma positiva, «um sentido do conjunto, em que cada coisa funciona no corpo em que se integra, e nós somos quem mais responsabilidades tem nisso».
D. Jorge Ortiga começou por dizer que a necessidade de «novidade» que todos temos de procurar deve-os levar a encontrar «esquemas» diferentes na ação social. Apesar de considerar que «não há cuidado na vida dos cristãos e das comunidades» pelas obras de misericórdia espirituais, o arcebispo de Braga considera que é importante olhar para esta nova obra de misericórdia sugerida pelo Papa, do cuidado pela natureza. «Se pensarmos, compreendemos esta nova obra de misericórdia. Quando trabalhamos diariamente para esta casa comum, estamos a viver a expressão máxima da misericórdia do Senhor, e a contemplar a obra máxima que Deus criou para todos», afirmou.
O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana acha que o «tema pode trazer novidade à nossa ação social, às vezes parada». «Ao olharmos para a ecologia como casa comum, iremos descobrir caminhos novos e permitir que a ação social os percorra».
Apesar de reconhecer que «há muitos interesses instalados», o prelado bracarense defende que «a igreja tem de ser sinal de contradição, e dizer que a casa de todos tem de ter capacidade para acolher todos». «Que a Laudato Si traga novo espírito às nossas comunidades», pediu, a concluir a sua intervenção.
Os trabalhos prosseguiram com Francisco Ferreira, da ONG Zero, a fazer uma apresentação sobre o estado do clima do mundo e o que têm sido as negociações com vista a um ambiente melhor, e uma apresentação, por parte da Comissão Episcopal da Pastoral Social, da encíclica Laudato Si.