O Cardeal-Patriarca de Lisboa. D. Manuel Clemente, deu uma entrevista exclusiva à Família Cristã sobre a sua participação no Sínodo dos Bispos que se iniciará no próximo domingo, dia 4. Confirmando que vai intervir na aula sinodal, D. Manuel Clemente disse que vai pedir uma «reorganização da vida cristã em chave familiar». «Olhamos para uma paróquia e dizemos que tem 2 ou 3 mil praticantes dominicais, e fazemos censos e estatísticas. Não é muito mais interessante dizer "eu nesta paróquia tenho 253 famílias"? Em que a base e a estruturação, a vida sacramental, o batismo dos filhos que já provieram do matrimónio dos pais, a iniciação cristã, conta muito mais com a base familiar, do que com a abstração individual», referiu o prelado.

Sobre umas das questões mais sensíveis e mediáticas que se irá abordar no Sínodo, a comunhão de divorciados e recasados, D. Manuel Clemente não espera que a Igreja mude a sua regra, mas sempre vai dizendo que é uma «regra geral», que pode não se aplicar a todas as pessoas nessa situação. «Trata-se de vermos como devemos conjugar cada vez melhor a verdade sacramental com a vida de cada um e as circunstâncias subjetivas e objetivas. Temos de ver tudo isso sem pôr em causa nenhum dos termos», diz o Cardeal-Patriarca, que defende que a apreciação caso a caso pode levar a dar soluções diferentes para cada pessoa, considerando as suas circunstâncias e realidades. «Isso é o que já acontece, e quem está dentro da igreja sabe que é isso que se faz», confirmou.
Reforçando que a Igreja se deve preocupar muito com a preparação para o matrimónio, D. Manuel Clemente pede que a preocupação se mantenha depois do matrimónio. «A grande questão que se põe é como que nós, comunidades cristãos, vamos, nas nossas famílias, paróquias, comunidades e movimentos, preparar e apoiar o matrimónio cristão», sustenta o Cardeal-Patriarca.
O pedido é de que as comunidades se organizem dando mais importância à questão familiar. «Qual é o lugar que nós damos à celebração do batismo que insere na família dos filhos de Deus aquela criança que os pais trazem à comunidade? Vemos isso com gosto, a nossa família cristã a crescer?». Até porque é nas pequenas coisas que os bons hábitos vão crescendo, segundo o prelado. «Eu conheço párocos que, todos os anos, tendo as direções dos casais, enviam uma felicitação a quem faz anos de matrimónio. Coisas simples, mas que dão à vida matrimonial um acompanhamento e uma atenção como deve ser», refere.

Nesta grande entrevista que faz capa da edição de outubro da revista Família Cristã, D. Manuel Clemente abordou também o motu proprio do Papa Francisco sobre a nulidade matrimonial, afirmando que, «na linha de coisas que tinham sido pedidas e insistidas na última assembleia sinodal, que se facilite o que pode ser facilitado», sem nunca colocar em causa a indissolubilidade do matrimónio, já que «quando de uma maneira consciente, responsável e livre um homem e uma mulher se aceitam como esposas perante Deus, nós, Igreja, não temos qualquer espécie de poder ou autoridade para interferir», disse.
Sobre o aumento da taxa de natalidade, que se verifica este ano pela primeira vez nos últimos tempos, aliado ao aparecimento de algumas medidas que visam apoiar a natalidade e as famílias, D. Manuel Clemente reconhece que «há muita inspiração cristã na sociedade portuguesa, e esse é um dos pontos em que fazemos o reconhecimento feliz que há incidência».
Pode ler toda a entrevista na edição de outubro da revista Família Cristã ou no blogue criado para acompanhar os trabalhos do Sínodo dos Bispos, em
sinododafamilia.blogspot.pt
Texto: Ricardo Perna
Fotos: Rita Bruno e Ricardo Perna
Continuar a ler