O balanço que o casal Pombas – Francisco e Isabel –, responsáveis pelo Departamento Nacional da Pastoral Familiar (DNPF), faz do X Encontro Mundial das Famílias, é muito positivo, mas a conversa com a Família Cristã revela uma preocupação com a realidade da Pastoral Familiar do país. Há documentos com orientações que ainda não estão implementados, bispos «reticentes» em aceitar mudanças, e incapacidade de chegar aos casais que estão «fora dos movimentos» com um acompanhamento na vida familiar que seja efetivo.
Uma coisa Francisco Pombas tem como certa ao sair de Roma com o mandato do Papa de ser enviado a esta missão da Pastoral Familiar: «temos de conseguir pôr isto [a preparação para o matrimónio] na agenda». «Não é possível continuar a não dar visibilidade a este assunto. É determinante haver uma preparação próxima para o casamento que não é a preparação para a cerimónia do casamento, mas sim uma preparação para a vida matrimonial. Isso é determinante, até pela realidade do número de nulidades que se têm verificado», considera.
Deste Encontro, o casal leva «três diretrizes» que querem transmitir, «com algum pensamento e estrutura, a todas as dioceses e movimentos em Portugal». «Depois do que aconteceu aqui, a missão principal do DNPF é ter um roteiro, dentro do próximo ano, para que isto chegue às dioceses e aos movimentos», avançou.
As linhas pastorais apontam então, segundo Francisco Pombas, para três áreas. Desde logo, o itinerário catecumenal de preparação para o matrimónio. «Foi algo que teve uma visibilidade tão grande e um apoio tão grande do Papa, que temos de o colocar na agenda, e isso é um desafio», refere o responsável pelo DNPF, que também aponta a «questão do acompanhamento nos primeiros anos do matrimónio». «Em Portugal isso é feito nos movimentos e é um trabalho muito meritório, mas temos de arranjar estruturas paroquiais, diocesanas para que os casais que não pertençam a esses movimentos tenham esse apoio», defende. Finalmente, a terceira diretriz aponta para os casais que vivem momentos difíceis. «Tem de haver estruturas da parte da Igreja que deem apoio aos casais que têm dificuldades», pede este responsável.

Isto consegue-se com uma «mudança de atitude», refere Isabel Pombas, que defende que a mudança tem de começar na hierarquia da Igreja. «A dificuldade prende-se sobretudo com a aceitação ao nível das dioceses, ter os bispos a aceitarem... nós já falámos com alguns bispos e padres que se mostraram reticentes a essa nova realidade, porque acham que isso irá afastar os noivos do casamento. Penso que o primeiro passo será sobretudo convencer o clero, desta necessidade, deste documento e da importância dele», refere.
Mais especificamente, refere que cabe à Comissão Episcopal do Laicado e Família, na qual o DNPF está inserido, dar o «primeiro passo». «Serão os bispos dessa Comissão que nos têm de dizer “sim, vão em frente, vamos avançar com isto”. Enquanto isso não acontecer, temos de aguardar», lamenta.
Este é um evento que viu a sua configuração ser afetada pela pandemia, mas que se transformou num evento mundial, partido num encontro em Roma de delegações de mais de 120 países do mundo, e uma multiplicação de eventos em muitas dioceses destes mesmos temas, animação e convívio.
Isabel Pombas elogia o carácter «testemunhal» do Congresso Teológico-Pastoral, que enriqueceu a discussão, e elogia «sobretudo o testemunho acerca do perdão, que foi muito tocante, não só pela perda dos filhos, mas também o perdão em todas as outras vertentes». «Como foi um testemunho muito forte, faz-nos pensar que damos importância a coisas que não têm importância nenhuma, e a nossa santidade passa pela capacidade de perdoar», refere esta responsável.
Francisco Pombas concorda e revela que «estamos entusiasmados com todas as notícias, com todos os programas que nos fizeram chegar» das dioceses de Portugal que se vão juntar à celebração do X Encontro Mundial das Famílias. «Foi feito um evento em Roma, mas este encontro vai-se multiplicar por todas as dioceses do mundo, nomeadamente por muitas dioceses em Portugal. O balanço final será durante esta semana, quando começarmos a receber os ecos dos vários encontros que estão a decorrer em Portugal».

Uma oportunidade de juntar as famílias e de lhes falar de um «caminho de santidade», que permita «tornar o matrimónio não apenas numa vocação, mas consciencializar as famílias que, mais que uma vocação, o casamento, a vida familiar, têm uma função na sociedade e têm uma função na Igreja, e isso transpareceu do encontro», refere.
Em Roma, a delegação portuguesa, cujo número de delegados foi determinado pela organização, em função do tamanho do país e da sua Conferência Episcopal, foi constituída por cinco casais, liderados por Francisco e Isabel Pombas, o assistente, Pe. Francisco Ruivo, a Ir. Inês Senra e D. Joaquim Mendes, presidente, e D. Armando Domingues, bispos que fazem parte da Comissão Episcopal do Laicado e Família, e José Francisco Cruz, secretário da mesma Comissão.
A reportagem em Roma no âmbito do X Encontro Mundial das Famílias resulta de uma parceria entre a Agência Ecclesia, a Família Cristã, o Diário do Minho e a Associação de Imprensa de Inspiração Cristã.
Texto e fotos: Ricardo Perna
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