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Portugal e os portugueses merecem mais e melhor
21.11.2022
1. Fui surpreendida com a notícia de que a revista FAMÍLIA CRISTÃ irá editar a sua última edição no final deste ano. É sempre lamentável aceitar o fim de publicações que admiramos e, no caso vertente, que souberam conservar ao longo dos tempos os valores humanistas e cristãos que, no meu caso, partilho.

O acesso à informação alterou-se de forma radical: hoje somos diariamente confrontados com um excesso de títulos e notícias que, por via digital, nos mantém permanentemente pseudo-informados sobre tudo, mesmo que não o queiramos. Sem critério, muitas vezes sem confirmação de fontes, sucedem-se os artigos e as opiniões de pessoas que se consideram especialistas em todos os temas. Influenciando muitas vezes de forma errónea e errada, veiculando mensagens muitas vezes concebidas para criar opinião.

Não podemos, assim, deixar de encarar com tristeza o fim de uma publicação com mais de 60 anos em Portugal, editada pela PAULUS Editora, uma referência para tantas pessoas que nela encontravam reflexões, artigos, notícias relativas à Igreja Católica, podendo confiar nas fontes e na fidedignidade da informação contida na mesma.

É certo que o consumo de informação mudou e que os mais jovens não querem ler em papel o que podem ler nos meios digitais que consomem com facilidade através dos seus telemóveis ou computadores pessoais. É certo que há hoje canais de televisão da Igreja disponíveis através do cabo, para quem tenha esse tipo de acessos. Espero que a FAMÍLIA CRISTÃ possa pelo menos conservar este tipo de publicação, divulgando o site e dando voz a quem a não tem noutros meios.

2. A situação económica atual afeta muitas famílias que não imaginavam ter de enfrentar uma inflação a dois dígitos no que se refere aos bens mais básicos, como os alimentos, o gás, a eletricidade, os combustíveis, etc. Acresce a pressão pelo lado das taxas de juro que, no caso das famílias que têm empréstimo para a compra de casa, se reflete numa prestação mensal mais elevada. Com orçamentos familiares já muito esticados, não será fácil acomodar estas acrescidas despesas e encargos que não são novos, mas pesam mais no todo.

Apesar do apoio anunciado pelo Governo de 125 € por cada família até um determinado rendimento anual, não será fácil equilibrar as contas, continuar a assegurar as necessidades básicas e chegar ao fim do mês sem sobressaltos. Até porque o apoio é numa prestação única e não se prevê a curto/médio prazo um decréscimo da inflação nem das taxas de juro. Antes pelo contrário. Assim tenho defendido que deve ser feita uma pedagogia às famílias por forma a elucidá-las sobre o que se prevê que esteja para vir, em vez de criar uma expectativa de melhoria impossível no curto prazo.

Em Portugal, a taxa de pobreza é uma das maiores da Europa, com mais de 19% das pessoas – 20% da população – abaixo do limiar da pobreza, com menos de 450 € por mês para viver. Sem uma economia dinâmica que possa gerar melhor emprego, mais bem pago, arriscamo-nos a ver os nossos jovens sair de forma maciça, procurando noutras geografias uma melhor renumeração e uma carreira profissional com mais e melhores perspetivas. Acresce o facto de que hoje, com o teletrabalho institucionalizado, é fácil trabalhar à distância, pelo que são muitas as empresas que contratam nas universidades portugueses, jovens que foram formados com verbas dos contribuintes portugueses que assistem assim, sem nada poder fazer, a uma debandada das qualificações e competências. Temos médicos, enfermeiros, advogados, economistas, informáticos, criativos, etc., a escolher ir para fora trabalhar e viver, quando se regista, em simultâneo, uma grande falta de profissionais qualificados em setores-chave. Exportamos competência e qualificações em vez de produtos e serviços, enfraquecendo a nossa economia que vê fugir o capital humano que poderia gerar impacto e riqueza. É urgente mudar esta triste realidade, aproveitando para fazer algumas reformas estruturais e facilitando a implantação de empresas, por via fiscal, ou outra, geradoras de emprego qualificado e bem remunerado.

Acredito que havendo visão e ambição, com vontade política e um esforço coletivo bem liderado, poderemos contribuir para que Portugal possa ser próspero e o país que todos gostaríamos que fosse. Não se trata de acreditar em milagres, neste caso. Trata-se antes de acreditar que Portugal e os portugueses merecem mais e melhor.