Com a morte de D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto, e a resignação forçada por motivos de saúde de D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu, aumenta para seis o número de dioceses portuguesas que vão mudar de bispo diocesano nos próximos meses. Das 21 dioceses portuguesas, quase um terço vai mudar de bispo, ou mais, se considerarmos a tradição de algumas acolherem como residenciais bispos que já eram residenciais noutras dioceses.

Uma análise das diferentes faixas etárias que compõem o episcopado português mostra que é um episcopado envelhecido, numa fase de renovação. Dos 28 bispos residenciais e auxiliares, apenas seis têm menos de 60 anos. Do resto, 12 têm entre 60 e 69 anos (D. António Francisco dos Santos faria parte deste grupo, com 69 anos), enquanto dez têm mais de 70 anos. Neste grupo dos mais velhos estão também concentrados boa parte dos bispos residenciais.
São seis as dioceses onde será preciso mexer nos próximos meses. No Porto faleceu D. António Francisco dos Santos e em Viseu D. Ilídio Leandro renunciou por motivos de saúde. Porque atingiram o limite de idade, renunciaram ao cargo D. Manuel Pelino Domingues, de Santarém, D. António Carrilho, do Funchal, D. José Alves, de Évora, e D. Amândio Tomás, de Vila Real, que completa 75 anos em abril de 2018, embora este último possa permanecer mais tempo na diocese, se o Papa Francisco assim o desejar. Apesar de ter completado 75 anos em abril deste ano, o Papa Francisco pediu a D. António Carrilho que se mantivesse por mais um ano à frente da diocese, pelo que a sucessão no Funchal pode ser das últimas a ser decididas. A situação em Évora é diferente: depois de já ter completado um ano a mais à frente da diocese, o Papa Francisco pediu a D. José Alves que permanecesse «mais algum tempo», sem especificar.
O bispo mais novo é D. José Cordeiro, bispo diocesano de Bragança-Miranda, e um dos candidatos a trocar de diocese nesta onda de nomeações que aí vem. Com apenas 50 anos, é acompanhado no grupo dos mais novos por D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra e antigo reitor do Santuário de Fátima, que tem 56 anos. Do outro lado, e excluindo os que já pediram resignação, D. Amândio Tomás, de Vila Real, com 74, e D. Jorge Ortiga, de Braga, com 73, são os bispos diocesanos mais velhos.
Os nomes em cima da mesa
No que diz respeito às dioceses, é muito provável que os lugares de Bispo do Porto e de Arcebispo de Évora sejam ocupados por bispos residenciais ou auxiliares de outras dioceses, considerando o tamanho e o desafio pastoral do Porto e a importância da Arquidiocese de Évora.
Quanto a nomeações, Lamego ou Bragança-Miranda poderão perder o seu bispo para o Porto, enquanto D. Francisco Senra Coelho é uma opção que tem sido falada para Évora, considerando o seu historial na diocese. Mas há ainda D. Manuel Linda, bispo das Forças Armadas, que está apenas há quatro anos no cargo, mas que pode ser desviado para alguma das dioceses já enunciadas.
Para Funchal, Santarém e Viseu é menos provável que passem bispos diocesanos, e a Família Cristã sabe que os auxiliares de Lisboa estão a ser considerados para Santarém e Funchal. No entanto, é possível que alguns sacerdotes ou cónegos, nomeadamente do Patriarcado de Lisboa, possam ser escolhidos para qualquer uma das dioceses.
Dos sacerdotes que poderão assumir dioceses, ressalta o nome do Cónego Isidro, do Patriarcado de Lisboa, e do Pe. Duarte da Cunha, a terminar o seu mandato como secretário-geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa, um sacerdote que goza de bastante prestígio internacional e que poderá estar de regresso a Portugal pela via do episcopado.
“Dança das cadeiras” pode obrigar a mexidas noutras dioceses
Dos atuais bispos, D. João Marcos e D. João Lavrador tomaram posse de Beja e Angra, respetivamente, há um ano, D. José Ornelas de Setúbal há dois e D. António Moiteiro Ramos de Aveiro há três anos, pelo que será pouco expectável que possam mudar já de diocese, embora as vagas deixadas em aberto de forma inesperada no Porto e em Viseu por bispos que ainda teriam muitos anos de episcopado possam também obrigar a mexidas inesperadas. D. José Ornelas chegou a ser falado aquando do processo de nomeação do Cardeal-Patriarca de Lisboa, pelo que é sempre um nome a considerar, mesmo que o pouco tempo em Setúbal indique que aí deva permanecer, segundo a Família Cristã pôde apurar junto de fontes eclesiais.
É também importante dizer que, se algum dos bispos auxiliares for chamado para assumir uma diocese, será também iniciada nessa diocese o processo de nomeação de outro bispo auxiliar, para colmatar a falta desse. Neste momento, Braga, Porto e Lisboa são as únicas dioceses que têm bispos auxiliares.
Os desafios pastorais das dioceses
Évora é uma das arquidioceses mais antigas, datando do ano 303 d.C. Não sendo uma das mais mediáticas dioceses, em virtude de estar no interior e de sofrer do problema da desertificação da sua população, o arcebispo de Évora é uma figura de prestígio e a diocese representa um imenso desafio pastoral, considerando a reduzida população e a proliferação de pequenas comunidades isoladas, com população reduzida e envelhecida.
A diocese do Porto, por outro lado, é um desafio bem mais mediático. Os seus últimos bispos, D. Manuel Clemente, hoje Cardeal-Patriarca de Lisboa, e D. António Francisco dos Santos, que faleceu recentemente, eram dois dos bispos mais bem cotados no episcopado português e na sociedade civil, e o Porto, que é diocese desde o Séc. VI, é uma das dioceses mais importantes do país.
Viseu é uma diocese que passou por um processo sinodal conduzido por D. Ilídio Leandro e que tem um caminho e um programa definido, além do novo bispo poder contar com algum apoio da parte do Emérito, que deseja manter-se na diocese, embora apenas como pároco.
O Funchal é uma diocese com características muito próprias, em virtude de ser um arquipélago, e um desafio pastoral grande, principalmente considerando as questões da emigração e retorno de muitos emigrantes, vindos nomeadamente da Venezuela, para além das questões pastorais da própria ilha.

Em Santarém a diocese enfrenta alguns problemas de índole pastoral, com alguns dos sacerdotes contra o rumo que D. Manuel Pelino estava a dar à diocese. Na sua última carta pastoral, no início de julho, ainda antes do seu pedido de renúncia, o prelado já falava que aguardava «um novo timoneiro para presidir ao povo de Deus desta diocese de Santarém», e estabelecia como prioridades para o tempo que faltava a aplicação da Amoris Laetitia, uma exortação que «abre caminhos novos e temos alguns critérios para dar passos seguros nesta área», o Sínodo dos jovens e a carta pastoral da CEP sobre a renovação da catequese, uma área próxima do bispo, por ter sido durante alguns anos o presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé.
Considerando as idades do resto do episcopado, será de esperar que possam ser escolhidos para bispos, residenciais ou auxiliares, sacerdotes mais novos. Caso contrário, em breve a Igreja em Portugal terá de passar por um processo semelhante, com muitos bispos a renunciarem no mesmo período. Um problema para o Papa resolver.
Texto: Ricardo Perna
Fotos: Ricardo Perna, João Lopes Cardoso e Patriarcado de Lisboa
Infografia: Infogram
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