Lora Pappa e o ex-presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, receberam o Prémio Norte-Sul 2015, do Conselho da Europa.
Lora Pappa foi consultora do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Esta grega fundou a organização METAdrasi, cuja ação principal tem sido proteger refugiados e migrantes, especialmente menores e crianças desacompanhadas. Tem mais de 280 intérpretes e mediadores culturais. Dispõe igualmente de equipas de acompanhamento de crianças refugiadas e migrantes que chegam sozinhas à Grécia. Essas equipas transportam-nas em segurança para instalações apropriadas para menores. Já foram apoiadas mais de 3650 crianças.
Na cerimónia, Lora Pappa agradeceu a «todas as pessoas ativas na METAdrasi, mulheres e homens que sem o saber são guardiões dos Direitos Humanos. Agradeço-lhes do fundo do coração, porque tornaram possível o que parecia impossível: acompanhar crianças que estão detidas em centros de detenção em condições lamentáveis». Esta ativista admite que se trata «de uma corrida contrarrelógio para criar estruturas de acolhimento para que estas crianças, mais de 1500, não fiquem expostas a redes de passadores e de traficantes».
Reforçando o profissionalismo com que trabalham os intérpretes e mediadores da ONG, Lora Pappa diz fazer-lhes muitas vezes a questão: «Como é que se pode não abraçar um pai e uma mãe que identificam o corpo morto do seu filho e que têm de o enterrar em solo estranho? A energia do desespero e a energia da esperança movem o ser humano.»
Já o antigo presidente Joaquim Chissano é distinguido pelo seu contributo em favor da paz no continente africano, nomeadamente como enviado e negociador das Nações Unidas. O ex-Chefe de Estado de Moçambique diz ter aprendido que «nem sempre o diálogo leva a bons frutos» e que é preciso chegar a um resultado «em que não haja vencedores nem vencidos, mas todos sejam vencedores». Joaquim Chissano falou das diferenças económicas e sociais entre o norte e o sul do planeta sublinhando que «os conflitos e imigração são consequência destes desequilíbrios que já ameaçam estabilidade de instituições internacionais como a União Europeia».
O Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa foi entregue, pela primeira vez, por Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República salientou o papel de Lora Pappa na defesa dos refugiados, salientando que «o problema dos refugiados interpela o norte e o sul do mundo inteiro e exige de todos nós uma adesão plena aos valores que representam a matriz do Conselho da Europa». Joaquim Chissano foi caracterizado por Marcelo Rebelo de Sousa como «percursor do multipartidarismo» cujo «magistério estendeu-se a tantas outras latitudes e longitudes». O Presidente da República salientou o «exemplo de coragem na defesa da dignidade da pessoa humana e da democracia» dos dois galardoados. Marcelo Rebelo de Sousa disse que «é através da pedagogia do exemplo que devemos criar cidadania entre os povos».
O Prémio Norte-Sul, do Conselho da Europa, distingue anualmente duas personalidades, uma do Norte e outra do Sul, que promovam os Direitos Humanos, a pluralidade democrática e o desenvolvimento do diálogo intercultural e reforço da solidariedade entre o norte e o sul do planeta.