Pela primeira vez na história dos Sínodos, a Secretaria-Geral do Sínodo dos Bispos criou uma Comissão dedicada à Comunicação, que vai trabalhar em conjunto com as outras comissões na preparação do Sínodo sobre a Sinodalidade que teve início este fim-de-semana em Roma, e irá ter a sua assembleia conclusiva em outubro de 2023.

Não tendo ainda toda a equipa formada, já se sabe que será integrada por dois portugueses, o Pe. Paulo Terroso, da arquidiocese de Braga, e a leiga Leopoldina Reis Simões, que já tnha colabora dom a Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia e Panamá nesta área da comunicação. O Pe. Paulo Terroso assume como objetivo aproximar o discurso dos media ao que realmente acontece neste processo. «Uma das grandes missões desta comissão é que o Sínodo real seja o Sínodo mediático. Não sei se vai ser possível, mas essa é uma questão real», assinala o sacerdote.
O diretor do Departamento de Comunicação da Arquidiocese de Braga e administrador do ‘Diário do Minho’ evoca experiências anteriores de grandes eventos da Igreja Católica, nos quais «aquilo que é lido, que é ouvido, que é visto, é assumido como verdade», reduzindo os trabalhos a questões mais polémicas ou a agendas particulares.
A equipa internacional de comunicação, que constitui uma das quatro comissões do Sínodo, manifesta a preocupação do Vaticano com a necessidade de chegar às pessoas, a começar por termos como «Sínodo, sinodalidade». «Não são palavras fáceis», admite o sacerdote português.
O responsável aponta à importância de promover a proximidade com os jornalistas, aos órgãos de comunicação social, estabelecendo uma relação através de contactos próximos e regulares.
A diversidade de membros da Comissão da Comunicação quer ajudá-la a chegar às várias culturas, a cada país e aos seus órgãos de Comunicação Social. «Qualquer evento de escala mundial precisa de ter uma equipa internacional de comunicação» e interdisciplinares, observa o sacerdote português. O entrevistado fala num desafio «feliz», que exige «diálogo, escuta e cooperação». «Escutar é o primeiro ato de hospitalidade e de respeito pelo outro», indica.
A Comissão vai desenvolver um plano de comunicação para o Secretariado-Geral do Sínodo, com o objetivo de «promover a difusão e inculturação da mensagem sinodal nas várias culturas e subculturas de todo o mundo e através dos diversos meios de comunicação».
Juntamente com os média do Vaticano, a Comissão da Comunicação assume o objetivo de «divulgar as várias experiências sinodais e boas práticas». A equipa internacional vai ainda promover projetos em colaboração com outras realidades eclesiais, para a difusão da experiência sinodal nas redes sociais ou promover a dimensão espiritual do caminho sinodal.
Leopoldina Reis Simões também integra a Comissão da Comunicação e mostra-se «muito feliz» pelo convite, que lhe permite também representar Portugal junto de um grupo com várias competências, idades e experiências profissionais, de várias partes do mundo.
A profissional de assessoria de imprensa, relações públicas e comunicação realça que esta equipa quer «contribuir para que o Sínodo não fique só dentro dele mesmo, mas que o mundo todo possa acompanhar e, sobretudo – é a palavra de ordem, aqui – participar».
Este organismo trabalha em comunicação com o Dicastério para a Comunicação e a Sala de Imprensa da Santa Sé. «O sentido não é limpar a imagem da Igreja. Não nos é pedido para passar um pano, uma esponja, esconder os problemas, mas é a ajudar que tudo seja discutido, dialogado e refletido», assinala Leopoldina Reis Simões.
Para esta profissional, o exemplo da Comissão de Comunicação do Sínodo, onde todos trabalham «como um» pode ajudar outras entidades, diocesanas ou nacionais, a superar a tentação de trabalhar isoladamente, em «capelinhas», sem «separações nem competições».
Comunicação tem de ser transversal ao Sínodo e a toda a Igreja

O Pe. Valdir José de Castro, superior-geral dos Paulistas, foi um dos convidados especiais na sessão de abertura do Sínodo dos Bispos, como representante dos Institutos Religiosos, e sublinha que é preciso entender a comunicação como mais do que «uma técnica e um meio para difundir uma mensagem». «Um sínodo é um evento de comunicação. Se não funcionar a comunicação, não há Sínodo», aponta.
Nesse sentido, o religioso sustenta que esta deve ser uma linha que «percorre» todos os trabalhos, a partir de palavras centrais como «escuta» ou «comunhão».
Para o sacerdote brasileiro, os próximos dois anos serão um «tempo de formação, de educar a Igreja para a sinodalidade», o que também exige o compromisso dos comunicadores para «explicar o que é o Sínodo, ajudar a resolver conflitos que possam aparecer».
O caminho sinodal poderá ainda permitir abrir espaço para outras discussões, pois, afirma o superior geral dos Paulistas, «se a Igreja se educa na sinodalidade, vai ser muito mais fácil discutir outros temas». «É preparar o chão para começar a discutir outros problemas, para haver dentro da Igreja essa capacidade de diálogo e mudança, perceber onde precisa de mudar», sustenta.
Cristiane Murray, vice-diretora da Sala de Imprensa da Santa Sé, destaca que o Dicastério para a Comunicação «está a trabalhar em sinergia com a Secretaria do Sínodo, desde o primeiro momento, para fazer um caminho de sinodalidade». «Vamos ter muito mais participantes, porque participam desde as bases até às conferências continentais, pelo que este processo vai ser muito mais comunicativo», aponta.
Os vários responsáveis destacam a valorização da língua portuguesa, que para Cristiane Murray vai ter na Jornada Mundial da Juventude 2023, em Lisboa, «uma grande ocasião de divulgação».
A reportagem sobre a aberturado Sínodo dos Bispos em Roma é fruto de uma parceria estabelecida entre a Agência Ecclesia, a Família Cristã, o Diário do Minho e a Associação de Imprensa Cristã.
Texto: Ricardo Perna (com Octávio Carmo)
Fotos: Ricardo Perna
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