Todos os anos vão parar aos oceanos entre 5 e 13 milhões de toneladas de plásticos. É a conclusão de um estudo da revista
Science que recolheu dados de 192 países costeiros. O problema é tão grave que a Organização das Nações Unidas lançou uma campanha para reduzir o plástico nos oceanos. Segundo a ONU, 80% do lixo no mar é plástico e causa prejuízos nos ecossistemas marinhos.

Este é um tema muito importante para Ana Pêgo. Ela é bióloga marinha e a criadora da página facebook
Plasticus maritimus. «Vou muito à praia no inverno e via muitas coisas que as pessoas não viam e eu queria que vissem. Como ia acompanhando outras páginas sobre alertas de objetos, em setembro de 2015, comecei a colecionar e, em dezembro 2015, criei a página no facebook para mostrar aos meus amigos e foi-se alargando». E o que faz Ana? Ana apanha plástico nas praias na zona de Cascais onde mora. Com ele constrói objetos e faz exposições artísticas juntando peças por tamanhos, formas ou cores. O primeiro projeto surgiu em 2014 com uma instalação de uma baleia feita com lixo encontrado na praia. A
Balaena Plasticus é um esqueleto de baleia-de-barbas com 10 metros de comprimento, construído com 250 peças de plástico branco (garrafões, esferovite, etc).
Ana diz não ser artista plástica. «Não sei se é arte ou deixa de ser, e há sempre o risco de acharem o lixo bonito. Mas acho que depois de perceberem o que é tem sempre algum impacto.»
Tem feito formações de educação ambiental em escolas e para famílias. «Preocupa-me a falta de informação das pessoas. A minha necessidade disto é precisamente para tentar educa-las e informá-las porque não têm consciência nenhuma.» Com a informação quer mudar mentalidades e comportamentos. E atira alguns
erros que até são cometidos por boas causas.
1.º largada de balões - «Agora até fazem largadas de balões noturnas que além do latex e das cordas, ainda têm uns
led lá dentro. Onde é que vão parar os balões? Não ficam no céu para sempre!»
2.º lixo na sanita – «Os cotonetes são o segundo item de lixo marinho encontrado nas praias portuguesas segundo a Associação Portuguesa de Lixo Marinho. O primeiro são as beatas de cigarro. As pessoas deitam os cotonetes na sanita e vão parar ao mar…»
3.º beatas de cigarro no chão – «As beatas acabam, com a chuva ou a lavagem das ruas, por ir para as sarjetas e daí para o mar.»
Que fazer?
As Nações Unidas sugerem aos governos dos países que apliquem medidas para reduzir o plástico através da mudança de hábitos e redução de produção de embalagens por parte das empresas. O objetivo para 2020 é que sejam até lá eliminadas os microplásticos de cosméticos e as embalagens descartáveis.
A ONU estima que se se mantiver o ritmo de consumo de garrafas, sacos e copos de plástico, em 2050 haverá mais plástico do que peixes em peso no mar e 99% das aves marinhas terão consumido pedaços deste material.

Ana gosta muito de fazer sessões com crianças, mas acha «importantíssimo» falar com os pais «porque são eles que tomam as decisões e quem faz as compras». Assim, alerta sempre para as coisas que são de plástico e descartáveis. «Se nos recusarmos a usar estes descartáveis como garrafas de água – e há quem use uma por dia –, palhinhas, embrulhar os lanches em película aderente, comprar bolachinhas em pacotes embaladas individualmente já é muita coisa.» A bióloga marinha não é totalmente contra o plástico e não o aboliu de casa. «Temos de aprender a gerir os resíduos do plástico. Compro embalagens grandes, deixei de comprar pacotes de manteiga de plástico. Nas compras, não compro coisas em embalagens e levo os meus sacos de casa.» Mas há ainda outras mudanças: não bebe cerveja em copo de plástico e não mexe o café com palhinha de plástico. «Usamos durante três segundos e deitamos fora e é um material que vai durar para sempre e não é reciclável.» Esta sua opção já a meteu em situações estranhas como estar a mexer o café com um garfo de metal. «As pessoas ficam a olhar, mas às vezes, é também provocatório.»
Todos conhecemos os 3 R’s: reduzir, reutilizar e reciclar. Ana Pêgo diz que agora são mais e o primeiro é mesmo recusar. «Podemos e devemos dizer “Não, obrigado, não quero palhinha. Não, obrigado, não quero copo de plástico.