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Queremos oceanos de plástico?
08.06.2017
Todos os anos vão parar aos oceanos entre 5 e 13 milhões de toneladas de plásticos. É a conclusão de um estudo da revista Science que recolheu dados de 192 países costeiros. O problema é tão grave que a Organização das Nações Unidas lançou uma campanha para reduzir o plástico nos oceanos. Segundo a ONU, 80% do lixo no mar é plástico e causa prejuízos nos ecossistemas marinhos.

Regurgitação de uma gaivota. São visíveis os pedaços de plástico.
Este é um tema muito importante para Ana Pêgo. Ela é bióloga marinha e a criadora da página facebook Plasticus maritimus. «Vou muito à praia no inverno e via muitas coisas que as pessoas não viam e eu queria que vissem. Como ia acompanhando outras páginas sobre alertas de objetos, em setembro de 2015, comecei a colecionar e, em dezembro 2015, criei a página no facebook para mostrar aos meus amigos e foi-se alargando». E o que faz Ana? Ana apanha plástico nas praias na zona de Cascais onde mora. Com ele constrói objetos e faz exposições artísticas juntando peças por tamanhos, formas ou cores. O primeiro projeto surgiu em 2014 com uma instalação de uma baleia feita com lixo encontrado na praia. A Balaena Plasticus é um esqueleto de baleia-de-barbas com 10 metros de comprimento, construído com 250 peças de plástico branco (garrafões, esferovite, etc).

Baleia feita com plásticos apanhados na praia.

Ana diz não ser artista plástica. «Não sei se é arte ou deixa de ser, e há sempre o risco de acharem o lixo bonito. Mas acho que depois de perceberem o que é tem sempre algum impacto.»

Tem feito formações de educação ambiental em escolas e para famílias. «Preocupa-me a falta de informação das pessoas. A minha necessidade disto é precisamente para tentar educa-las e informá-las porque não têm consciência nenhuma.» Com a informação quer mudar mentalidades e comportamentos. E atira alguns erros que até são cometidos por boas causas.

1.º largada de balões - «Agora até fazem largadas de balões noturnas que além do latex e das cordas, ainda têm uns led lá dentro. Onde é que vão parar os balões? Não ficam no céu para sempre!»

2.º lixo na sanita – «Os cotonetes são o segundo item de lixo marinho encontrado nas praias portuguesas segundo a Associação Portuguesa de Lixo Marinho. O primeiro são as beatas de cigarro. As pessoas deitam os cotonetes na sanita e vão parar ao mar…»

3.º beatas de cigarro no chão – «As beatas acabam, com a chuva ou a lavagem das ruas, por ir para as sarjetas e daí para o mar.»
 
Que fazer?
As Nações Unidas sugerem aos governos dos países que apliquem medidas para reduzir o plástico através da mudança de hábitos e redução de produção de embalagens por parte das empresas. O objetivo para 2020 é que sejam até lá eliminadas os microplásticos de cosméticos e as embalagens descartáveis.

A ONU estima que se se mantiver o ritmo de consumo de garrafas, sacos e copos de plástico, em 2050 haverá mais plástico do que peixes em peso no mar e 99% das aves marinhas terão consumido pedaços deste material.

Ana e o fotógrafo Luís Quinta receberam um prémio com a Balaena Plasticus.Ana gosta muito de fazer sessões com crianças, mas acha «importantíssimo» falar com os pais «porque são eles que tomam as decisões e quem faz as compras». Assim, alerta sempre para as coisas que são de plástico e descartáveis. «Se nos recusarmos a usar estes descartáveis como garrafas de água – e há quem use uma por dia –, palhinhas, embrulhar os lanches em película aderente, comprar bolachinhas em pacotes embaladas individualmente já é muita coisa.» A bióloga marinha não é totalmente contra o plástico e não o aboliu de casa. «Temos de aprender a gerir os resíduos do plástico. Compro embalagens grandes, deixei de comprar pacotes de manteiga de plástico. Nas compras, não compro coisas em embalagens e levo os meus sacos de casa.» Mas há ainda outras mudanças: não bebe cerveja em copo de plástico e não mexe o café com palhinha de plástico. «Usamos durante três segundos e deitamos fora e é um material que vai durar para sempre e não é reciclável.» Esta sua opção já a meteu em situações estranhas como estar a mexer o café com um garfo de metal. «As pessoas ficam a olhar, mas às vezes, é também provocatório.»

Todos conhecemos os 3 R’s: reduzir, reutilizar e reciclar. Ana Pêgo diz que agora são mais e o primeiro é mesmo recusar. «Podemos e devemos dizer “Não, obrigado, não quero palhinha. Não, obrigado, não quero copo de plástico.
 
 
Texto: Cláudia Sebastião
Fotos:
Plasticus Maritimus
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