O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Manuel Clemente, disse hoje aos jornalistas que os casos de acesso dos divorciados recasados aos sacramentos devem ser tratados «com o bispo» de cada diocese.

Ao ser questionado, na conferência de imprensa de encerramento da 193ª Assembleia Plenária dos Bispos, sobre o facto de algumas dioceses já terem avançado nessa questão, abrindo a porta ao acesso aos sacramentos em circunstâncias específicas, o presidente da CEP apenas adiantou que, «no que me diz respeito, o que está na
Amoris laetitia, lendo-a no seu todo e não apenas numa nota de rodapé, e o todo aponta para a pastoral do vínculo, incluindo o diálogo com os bispos argentinos, é suficiente para mim e para a diocese que me está acometida, não preciso de mais», não assumindo uma posição enquanto presidente da CEP.
D. Manuel Clemente admitiu, no entanto, que o pronunciamento do Papa Francisco nesta matéria vai no sentido de permitir esse acesso aos sacramentos, e apresentou a nota de rodapé colocada na exortação e o diálogo que teve com os bispos argentinos que, em setembro do ano passado, lhe enviaram uma proposta de ação pastoral com base na exortação que contemplava o acesso dos divorciados recasados aos sacramentos, depois de um processo de discernimento. «O Papa admite que, esgotadas estas condições, nalguns casos, com discrição e autorização do bispo, se possa retomar alguma vida sacramental. As coisas estão assim neste ponto, se somarmos a nota de rodapé da
Amoris laetitia com o diálogo com os bispos. Mas não é uma coisa rápida, imediata ou simples, é uma coisa séria», reforçou.
Neste sentido, D. Manuel Clemente explicou aos jornalistas que o discernimento é muito importante em todo este processo. «Nem todos os casos são iguais. Há casos em que a pessoa que manifesta vontade de recuperar a vida sacramental foi a pessoa abandonada no casamento anterior, e isso não é a mesma coisa que alguém que se casou duas ou três vezes, ou se esqueceu das obrigações para com os filhos, e agora quer vir como se nada se tivesse passado», disse.
«Milhares» de jovens portugueses responderam ao inquérito pedido pelo Papa
Um dos assuntos abordados pelos bispos durante a Assembleia Plenária foi o resultado do inquérito lançado pelo Papa aos jovens e organizações juvenis da Igreja, na preparação para o Sínodo que irá acontecer no próximo ano. D. Manuel Clemente explicou que as respostas dos jovens mostram «um interesse muito acentuado pela família». «Nas respostas que chegaram, este interesse por tudo o que diz respeito à vida familiar é muito forte, e isso requer da nossa parte uma atenção reforçada a esta vertente da preparação para o matrimónio», reforçou o presidente da CEP.
Para além disto, os jovens fazem, nas suas respostas, um «apelo forte» a um «acompanhamento mais próximo, não só da parte dos eclesiásticos, como da comunidade cristã».
Homossexuais fora do caminho do sacerdócio
Outro dos temas abordados na conferência de imprensa foi a proibição de homossexuais acederem ao ministério sacerdotal. D. Manuel Clemente explicou que «tem havido sucessivos documentos a desaconselhar, para não dizer proibir, um jovem que manifeste essa orientação homossexual, a ingressar num seminário. Seria muito melindroso, e não é aconselhável», disse, em declarações aos jornalistas.
Questionado sobre se a tendência sexual seria base para definir um bom sacerdote, o presidente da CEP afirmou que «alguém que tenha essa tendência homossexual não deve ser posta numa situação melindrosa», e reforçou o que dizia sustentando que «em Cristo não há nada de homossexual». «Não é conforme ao que seria se recebesse o sacramento da Ordem como sinal de Cristo, portanto não deve ir para o seminário», rematou.
Respeito e cuidado pela Criação é «obrigação» do católico
No discurso de abertura da Assembleia dos bispos, D. Manuel Clemente falou da preocupação do episcopado com as questões da seca e dos incêndios. Questionado sobre se as paróquias estariam a fazer trabalho pastoral nesta matéria, o Cardeal-Patriarca de Lisboa assumiu que «há muito trabalho a ser feito».
«Para quem é crente, cada criatura é um dom de Deus que tem de ser respeitado. Isto não é um sentimento exclusivo dos cristãos, mas dos crentes, olhamos como Criação, e é uma obrigação religiosa cuidar da Criação. Que isto entre nas nossas catequeses, para que entre depois na prática das nossas comunidades, é uma obrigação», defendeu.
D. Manuel Clemente tem um passado ligado ao ambiente, em virtude de ter sido escuteiro, e referiu isto mesmo para explicar que «tenho sempre isto presente, a gastar menos água, a cuidar dos animais, até porque o escuta protege as plantas e os animais», e que esta é uma obrigação «catequética» de todos.
Texto e fotos: Ricardo Perna
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