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«Se sabem quem são, [as famílias] conseguem discernir melhor no ambiente digital»
25.06.2022
Fabíola Goulart (FG) e Gustavo Huguenin (GH) são um casal jovem especialista na questão das redes sociais e da evangelização. Já ajudaram em várias Jornadas Mundiais da Juventude, e têm feito um percurso que lhes permite pensar e refletir sobre este aspeto a partir da realidade concreta da Igreja, que conhecem em profundidade. Conversam de forma animada e despretensiosa com a Família Cristã à saída da Aula Paulo VI, onde deixaram um testemunho aos participantes no X Encontro Mundial das Famílias sobre a forma de equilibrar as relações familiares e a utilização das redes sociais.


 
As redes sociais são talvez a coisa mais assustadora e mais fantástica que aconteceu às famílias nos últimos tempos. Como é que se conseguem conjugar estes dois mundos?
GH – Quando estávamos a preparar a nossa participação, analisamos os dois lados das redes sociais, os riscos e as possibilidades. Não podemos negligenciar nem um lado nem o outro. Procuramos esse equilíbrio para apresentar um caminho de discernimento e as famílias possam amadurecer o conhecimento sobre como estar presente nas redes sociais.
 
Como é que esse discernimento deve ser feito?
FG – Apresentamos três pontos que são essenciais para o discernimento de cada família, de acordo com a sua realidade, a sua cultura e o seu acesso à tecnologia, que podem ajudar na caminhada da família com os filhos no presente digital, que é cada vez mais forte em cada família: identidade, diálogo e testemunho.
Na identidade, cada pessoa da família tem de ter bem claro quem é e para onde vão, os valores. Que os pais passem isso para os filhos. Se sabem quem são, conseguem discernir melhor entre as diversas vozes no ambiente digital.
Diálogo é questão de pais e filhos conversarem para que uns ajudem os outros. Os pais e os avós podem ajudar os filhos a discernir o relacionamento entre as pessoas (basicamente, uma rede social é relacionamento entre pessoas), e os filhos podem ajudar os pais na atualização das tecnologias e entenderem coisas novas que estão a chegar e por vezes os pais ficam perdidos. Os filhos já têm esse conhecimento e podem ajudar os pais nesse caminho.
No testemunho, nós falamos de dois aspetos: que a própria criança, o filho, seja um testemunho no ambiente digital (e demos o testemunho do beato Carlo Acutis que, sabendo quem ele era, foi em missão na internet ainda nos anos 90, podendo levar o amor pela Eucaristia no ambiente digital). E também falamos do testemunho que os pais dão aos filhos: muitas vezes os pais exigem, tentam controlar a utilização e a presença dos filhos no ambiente digital, mas falta também um pouco de sentido crítico, de consciência dos pais no ambiente das redes sociais. É interessante saber que testemunho eu, como pai, como mãe, estou a dar aos meus filhos nas redes sociais. Não lhe posso pedir que fique menos nas redes sociais se eu fico o tempo todo.
 
E acreditam que uma família forte e educada é uma família, pais e filhos, que consegue passar ao lado do que uma rede social tem de mau?
FG – A rede social é um ambiente, um ambiente diferente. E como temos o ambiente da escola, de amigos, de clubes, das amizades, do ambiente de trabalho dos pais... Nesse ambiente sempre temos perigos. Como numa cidade, há bairros mais perigosos, alguns locais que temos de evitar para ficar mais seguros. No ambiente digital é a mesma coisa. Se a família está unida, conversa, sabe dos seus valores cristãos, consegue agir melhor no ambiente digital.
 
É inegável que o ambiente digital veio para ficar. A Igreja já compreendeu que, por um lado, o ambiente digital é uma ótima ferramenta de evangelização, mas que é necessário um grande investimento nessa área?
FG – Acredito que a Igreja está a dar passos na valorização e profissionalização da comunicação. São passos tímidos, mas são passos. Por exemplo, o facto de este assunto ser tratado no Encontro das Famílias, é uma abertura! A sociedade é muito mais rápida! E se a Igreja não consegue acompanhar esse ritmo, outras vozes chegam primeiro à família. Precisamos de investir na comunicação, financeiramente, com profissionais, para que a voz da Igreja, a voz de Jesus chegue como chegam as outras vozes, cada vez com mais qualidade, mais ferozes, para atingir e tomar o coração de todos. Para competir com essas vozes e para chegar às famílias, temos de nos preparar.
 
GH – Há um movimento muito grande, até na área académica na Igreja, dentro da área da comunicação, com pesquisas sobre ciberteologia, presença no ambiente digital, evangelização e catequese online. Há vários campos em que a Igreja se tem atualizado. Como qualquer grande mudança dos nossos tempos, a Igreja também faz parte. A Igreja tem olhado, tem estudado e temos muitos estudiosos, muitas publicações, muitos livros, especificamente na área das redes sociais, internet, de presença digital. Temos dado um grande salto na Igreja!
 
Um dos grandes pontos é a capacidade de trazer o ambiente digital para a presença física, que não foi possível na pandemia. A experiência digital tem o risco do afastamento e isolamento físico. Como é que se consegue fazer uma boa experiência digital sem abandonar o aspeto físico, tão importante na vida da Igreja?
FG – Quando se faz comunicação para trazer as pessoas para a Igreja, é mais eficaz. Existem vários projetos que fazem isso: a ação da comunicação é para que a pessoa viva a sua fé. Ela faz comunidade no ambiente digital, mas a vivência da fé off-line, é na igreja. Quando se faz comunicação é preciso ter bem claro esse objetivo. Vejo muita gente a fazer projetos de evangelização e comunicação no ambiente digital, e esquecem-se um pouco da questão de convidar.
 
Como é que eu vejo que a minha ação evangelizadora nas redes sociais funciona e está a dar frutos? Quais os frutos que temos de procurar em toda a ação da comunicação?
FG – É se as pessoas estão a procurar a Igreja e os sacramentos. E tudo isso é físico. A comunicação tem de tender para isso: que as pessoas procurem a Igreja off-line, a vivência dos sacramentos, a vivência da fé católica numa comunidade física. Não que a comunidade on-line seja menos real. Ela é real, mas Jesus fez-se carne. A questão física, do estar presente, do ver, do tocar, experimentar, ouvir é muito importante! Não dá para fazer uma comunicação que seja só on-line. Ele tem de ser voltado para o off-line, para a vida em comunidade.


A reportagem em Roma no âmbito do X Encontro Mundial das Famílias resulta de uma parceria entre a Família Cristã, a Agência Ecclesia, o Diário do Minho e a Associação de Imprensa de Inspiração Cristã.

 
Texto e fotos: Ricardo Perna
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