Organizado pela Conferência Nacional do Apostolado dos Leigos, «Nada nos é indiferente entre a Terra e o Céu», foi o tema do III Encontro Nacional de Leigos que contou com a presença de centenas de leigos, a título individual ou através dos vários movimentos laicais. No sentido de descentralizar os ambientes destes tipo de eventos, a organização escolheu a cidade de Évora para reunir um painel valioso de convidados nacionais e estrangeiros que deram a conhecer as suas experiências enquanto leigos no mundo dos nossos dias. Na Igreja de São Francisco, o primeiro painel do dia apresentou três convidados internacionais, três vidas, três experiências diferentes, três olhares sobre o mundo, três modos de ser leigo hoje.
Primeiro Luís Ventura Fernández, espanhol, leigo missionário da Consolata, deu a conhecer a sua visão sobre o clamor dos povos indígenas, através da sua experiência na Amazónia onde esteve nove anos em missão. Para Luis Fernández, este é o tempo para ouvir o clamor da Terra e o clamor dos Povos. Citando Patrícia, uma indígena, afirmou que «a natureza é parte de nós e nós somos parte da natureza.» Mas a avidez dos interesses económicos têm prejudicado este lugar maravilhoso. Fernández falou então sobre os diversos problemas como as extrações de petróleo abruptas, as devastações da fauna e as mudanças de solo para terras de cultivo industrial de cana-de-açúcar ou soja, as expulsões direta ou indiretamente dos povos que habitam naquela região que abarca cerca de oito países.
Ora, tudo isto contribui para seja necessário uma ação que interrompa e mude o rumo das coisas. Por isso, apontou caminhos de ação como a capacidade de dialogar para encontrar soluções conjuntas; as mudanças de pequenos hábitos do quotidiano e do estilo de vida a nível pessoal, familiar e comunitário; na «conversão ecológica» olhando a Terra como «irmã e companheira» no «projeto criador de Deus»; no pensar um outro «modelo de desenvolvimento e de relações sociais» com «honestidade»; e por fim, para os leigos, para assumirem o seu papel social, a sua vocação de ser «sal no mundo», de agir no mundo onde os problemas existem e causam danos a todos, pois, como afirmou: «o sal apenas salga dentro da panela e não fora».
Ser leigo é ser apóstolo da verdade
O segundo olhar da manhã foi de Pascale Warda sobre os irmãos perseguidos no Iraque onde foi ministra da Imigração e do Refugiados durante o governo interino após a destituição de Saddam Hussein.
Pascale Warda afirmou, sem complexos e numa transparência admirável, que o problema é cultural. Para a ativista, a «maioria muçulmana ao impor as leis da sua «sharia», praticadas à letra há mais de 1400 anos, contribuiu para aprofundar a distancia entre os seus contemporâneos e as suas sociedades». De tal modo que o subdesenvolvimento se acentuou a todos os níveis económico, social, politico, tecnológico. Então, a infelicidade produzida por esta situação precária resulta no apontar de culpas a todos os que não partilham da mesma fé e da mesma cultura «incluindo os seus compatriotas!»
Num grito de revolta pelo genocídio dos cristãos Pascale Warde afirmou com veemência que «nunca nos devemos calar face às injustiças!» - apelando então a uma mudança real, a um renovado sentido de justiça que crie mudanças para uma economia ao serviço dos povos, em que a verdade esteja ligada à dignidade humana. Para Pascale, os leigos «são os apóstolos da verdade e têm de levar a verdade aos outros» e, para isso, «o clero e os leigos devem estar ao serviço da humanidade, numa atitude de respeito pelo homem e com Deus no centro» acrescentou.
A verdadeira pobreza de Nova Iorque
Num registo diferente, mais testemunhal, mas igualmente tocante, Joseph Campo diretor há mais de 20 anos da Casa de São Francisco que acolhe jovens sem-abrigo, falou sobre a sua experiência de fé contando a sua vida de conversão. Sobretudo, como Deus o levou de uma vida de sucesso, boa e confortável em Long Island, para o bairro problemático de Brooklyn em Nova Iorque.
«Ser pobre em Nova Iorque», explicou Joseph, «não é não ter que comer». De facto, «podemos ficar surpreendidos por muitos dos nova iorquinos, todos os dias, darem esmola aos pobres pedintes.» Esclareceu então sobre qual é a verdadeira pobreza em Nova Iorque: «as pessoas estão famintas de contacto humano. Mesmo se há 8 milhões de pessoas a cidade na cidade de Nova Iorque, uma pessoa pode sentir-se muito só, isolada do resto do mundo». O seu trabalho, a sua vida, consiste então em ser uma presença de fé na vida das pessoas capaz de dar sentido à vida: «toda a gente anda em busca de sentido, anda em busca de Deus mesmo sem O conhecer, toda a gente quer sentir que é amada.»
Querendo ser capaz de como um pai, proporcionar aos seus jovens um caminho seguro e com futuro, foi feliz ao conhecer um jovem estudante de cinema que lhe abriu os horizontes. Este jovem era muito bom no trabalho de cinema e Joseph convidou-o a fazer parte da Casa. Depois, conseguiu por todos a trabalhar em cinema criando assim a Grassroots films, uma companhia de cinema que já realizou três filmes de grande sucesso.
Devido a esta companhia de cinema, Joseph Campo está feliz por ela já ter possibilitado que hoje muitos dos seus jovens tenham emprego, casa própria, e família com muitos filhos que, carinhosamente, «me chamam avô», disse.
Quando questionado sobre a taxa de sucesso da sua missão, Joseph Campo confessou que era reduzida «talvez, 3 ou 5 em 100, talvez…» mas baseando-se em Madre Teresa de Calcutá disse: «bastaria apenas um para saber que vale a pena».
O Encontrou continuou pela tarde, com os painéis de convidados nacionais dedicados aos Workshops que abrangeram uma multiplicidade de temáticas pertinentes da atualidade: o entendimento do ser-humano hoje, a família, o ambiente, a economia e as questões sociais, a cultura, o sagrado e a espiritualidade, o perdão e a reconciliação, as periferias humanas e sociais.
texto Paulo Paiva
fotografia António Fonseca
Continuar a ler