O Vaticano publicou hoje o
Documento Preparatório do Sínodo dos Bispos, que deverá orientar os trabalhos sinodais que se irão iniciar a partir de 17 de outubro, data em que terá início o Sínodo em todas as dioceses do mundo.
O documento é acompanhado por um
Vademecum, que pretende ser um guia «para preparar e reunir o Povo de Deus para que possa dar voz à sua experiência na Igreja local». «Nós encorajamos a tirar ideias úteis deste guia, mas também a olharem para as suas realidades locais como ponto de partida. Podem ser encontrados caminhos novos e criativos para trabalhar juntos entre paróquias e dioceses, a fim de levar este Processo Sinodal a bom porto», pode ler-se no documento de apoio.
O Documento Preparatório estabelece as linhas de orientação para a fase diocesana do Sínodo dos bispos sobre a sinodalidade, onde se pretende concretizar a «primeira fase de escuta e consulta do Povo de Deus nas Igrejas particulares», num itinerário que deverá terminar em abril de 2022, com a realização de um encontro pré-sinodal em cada diocese e a elaboração de uma síntese das reflexões realizadas a nível local, no máximo com dez páginas, que depois servirá para as Conferências Episcopais realizarem a sua síntese, a partir da qual se escreverá o Instrumentum Laboris para a reunião magna dos bispos em outubro de 2023.
Apesar de não ter questões diretas e fechadas, o Documento Preparatório estabelece dez núcleos temáticos a aprofundar, para ajudar a fazer emergir as experiências e a contribuir de maneira mais rica para a consulta», que abordam «diferentes aspetos da “sinodalidade vivida”», que pode consultar em pormenor
aqui.
Os núcleos abordam questões como a forma como a Igreja escuta os jovens e as mulheres, ou saber quem faz efetivamente parte da Igreja local, como são as relações com as dioceses vizinhas, ou ainda como é a presença da Igreja local na sociedade e a sua participação.
Esta primeira fase do caminho sinodal pretende ser uma consulta geral do Povo de Deus, e não apenas dos crentes, ou dos leigos empenhados nos movimentos locais das paróquias e dioceses. «Será de importância fundamental que encontre espaço também a voz dos pobres e dos excluídos, e não somente daqueles que desempenham alguma função ou responsabilidade no seio das Igrejas particulares», refere o Documento Preparatório.
Para isso, os responsáveis do Vaticano pedem «criatividade» e que se utilizem, nos países onde tal já aconteceu, experiências sinodais locais passadas, a fim de conseguir envolver o máximo de pessoas possíveis. O objetivo, reafirmam os responsáveis da Secretaria-Geral do Sínodo, não é «produzir documentos, mas “fazer germinar sonhos, suscitar profecias e visões, fazer florescer a esperança, estimular confiança, faixar feridas, entrançar relações, ressuscitar uma aurora de esperança, aprender uns dos outros e criar um imaginário positivo que ilumine as mentes, aqueça os corações, restitua força às mãos”».
Responsáveis pedem «participação de todos» e «consulta verdadeira»
O Documento Preparatório e respetivo Vademecum foi apresentado aos jornalistas em
conferência de imprensa no Vaticano. O cardeal Mario Grech, Secretário-Geral do Sínodo, fala numa «etapa fundamental da vida da Igreja», argumentando que «o Sínodo triunfará ou falhará na medida em que nos apoiarmos no Espírito Santo, a quem devemos entregar todo este processo».
Já o Pe. Luís Marin, subsecretário do Sínodo dos Bispos e coordenador da Comissão Teológica, destacou que é errado pensar que a 17 de outubro se inicia a preparação para o Sínodo de 2023. «A fase diocesana não é uma preparação para o Sínodo, é o Sínodo, e é isso que se inaugura agora em outubro», realça, definindo que 3 objetivos como fulcrais para o sucesso desta fase. «Que a consulta seja verdadeira, se consulte verdadeiramente o povo de Deus. Que seja o mais ampla possível, a todos os que queiram contribuir para o bem comum, para o bem do Povo de Deus. Não é às elites, mas ao povo comum, e também aos que estão nas margens, que não são consultados, deve dar-se a oportunidade de serem escutados. E que seja prática, não em ideias teóricas, mas enraizada na vida e nas estruturas de participação na Igreja», referiu o sacerdote.
Myriam Wijlens, consultora do secretariado do Sínodo, esteve também presente para afirmar que os núcleos temáticos lançados pelo Documento Preparatório têm de ser abordados nas várias consultas locais, mas que «a forma como são abordados tem de ser adaptado às circunstâncias locais» e não fazia sentido ser a Secretaria do Sínodo, em Roma, a estabelecer uma forma de funcionamento. Para isso, contam com o trabalho do responsável diocesano nomeado em cada diocese para promover esta consulta. Em Portugal, apenas duas dioceses anunciaram ainda quem são esses responsáveis, mas as indicações são de que cada diocese deve dar essa indicação e ter essa pessoa, e respetiva equipa, pronta para levar a cabo esta consulta a partir de 17 de outubro.
Questionada sobre o papel que as mulheres deveriam ter neste Sínodo, esta responsável afirmou que espera que as mulheres «falem corajosamente e se cheguem à frente». «Estamos a falar de culturas muito diferentes em todo o mundo, e o papel das mulheres em cada é diferente», admitiu, mas espera que estejam a «abrir a porta» a essa participação.
Outra das mulheres presentes, a Ir. Nathalie Becquart, nomeada pelo Papa Francisco como a primeira mulher subsecretária do Sínodo dos Bispos, referiu que «é a primeira vez que se faz um documento destes, mas mostra que a Igreja quer renovar-se, mas que ainda está a aprender a colocar a sinodalidade em prática».
Ainda sobre o papel das mulheres neste processo, a religiosa espera que «possam ser ouvidas e ser também protagonistas deste processo sinodal desde o início».
O Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade arranca a 9 e 10 de outubro no Vaticano, com uma celebração presidida pelo Papa Francisco e um momento de encontro e formação, em que já estão confirmadas mais de 200 pessoas, incluindo membros de outras confissões cristãs. Depois, a 17 de outubro, cada bispo, na sua diocese, deverá presidir uma celebração que marcará o início da fase diocesana do Sínodo.
Texto e foto: Ricardo Perna
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