Tem início amanhã, sábado, dia 9, o Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade. Esta iniciativa do Papa Francisco durará até outubro de 2023, altura em que bispos de todo o mundo se deslocarão ao Vaticano para a reunião que irá concluir todo o processo sinodal que agora se inicia.
O evento há muito aguardado pretende ser um processo de reflexão e discernimento sobre a Igreja e o seu futuro, conforme indicou o cardeal Jean-Claude Höllerich, relator-geral do Sínodo, em entrevista à
Família Cristã e Agência Ecclesia. «É preciso encontrar uma forma de tomar decisões na Igreja em que os cristãos estejam verdadeiramente envolvidos, a fim de se poder caminhar, porque há pessoas que não querem caminhar, querem sentar-se e permanecer lá onde se encontram; outros, correm à esquerda ou à direita, mas a Igreja para poder caminhar tem de ser em conjunto», referiu.
Neste sentido, deu-se início a um processo original na forma como irá ser conduzido, embora não propriamente inédito, conforme nos explicou o relator-geral do Sínodo. «Não é efetivamente apenas um primeiro exercício: já tivemos, por exemplo, o Sínodo dos jovens, do qual fiz parte, um pré-sínodo, (...) e também houve inquéritos feitos em universidades católicas, etc. Portanto, estes elementos sinodais já entraram em uso, e depois veio o Sínodo especial para a Amazónia, no qual tive a sorte de participar, e foi toda uma rede que preparou este sínodo», explicou.
O processo tem então início amanhã, sábado, com um momento de oração conjunta que reúne, com o Papa, mais de 200 membros de organismos internacionais de bispos, delegados de vida consagrada e movimentos laicais, membros da Cúria Romana e do Conselho Consultivo dos Jovens, criado após o Sínodo de 2018.
A oração é, aliás, um dos aspetos mais marcantes deste processo sinodal, marcado pela eucaristia de domingo, presidida pelo Papa, e pelas eucaristias em todas as dioceses de todo o mundo, na semana seguinte, que darão início à fase diocesana.
Também em Portugal, essa fase diocesana começará a partir de 17 de outubro. D. Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca de Lisboa, já
afirmou à Família Cristã que a participação de todos é importante, porque, diz o prelado, «a missão da Igreja é fazer com que tudo aquilo que herdámos do que Cristo disse e fez, continue a ser apresentado agora através de nós, pois foi através de outros que chegou até nós, na nossa família cristã, nos grupos aos quais nos juntamos», mas é uma missão que «não se faz sozinho, faz-se em sínodo, em comunhão, em caminho uns com os outros». «Corresponsabilidade e Missão não são coisas que se possam juntar ou desligar: quando existe uma, existe outra», garante.
Já o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Pe. Manuel Barbosa, afirmou, em declarações que pode ler na edição da Família Cristã de outubro, que a expetativa para este processo é «boa». «É uma forma de a Igreja se renovar, não só em si mesma, nos seus espaços, mas também na abertura e inserção na sociedade, numa linha de evangelização, como pede o próprio título», disse o porta-voz da CEP.
Momento de oração e eucaristia no domingo
O Papa preside este sábado à sessão de abertura da 16ª assembleia geral do Sínodo dos Bispos. Os trabalhos de sábado começam com a entronização da Palavra de Deus, numa procissão em que o jovem português Rodrigo Figueiredo, membro do Conselho Consultivo dos Jovens, vai transportar o Evangelho.
As primeiras intervenções estão a cargo da teóloga espanhola Cristina Inogés e do jesuíta Paul Béré, do Burquina-Faso, antes do discurso do Papa Francisco, que está previsto durar 25 minutos.
Seguem-se o cardeal Jean Claude Hollerich, relator-geral do Sínodo 2021-2023, e o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo. Os mais de 200 participantes nesta sessão vão ouvir testemunhos de leigos, religiosos e bispos, além de uma saudação do irmão Alois, prior da comunidade ecuménica de Taizé.
No domingo, o Papa preside à Missa que inaugura oficialmente o processo sinodal deste biénio, a partir das 10h00 (menos uma em Lisboa), na Basílica de São Pedro.
Simbolicamente, a procissão de entrada conta com a presença de um grupo de 25 pessoas «representando todo o povo de Deus e os diferentes continentes», informa a Santa Sé.
A Secretaria do Sínodo dos Bispos é auxiliada no seu trabalho por várias comissões para a assembleia geral de 2023, com a presença de religiosas e teólogas da África do Sul, Alemanha, Austrália, Burquina-Faso, Estados Unidos da América, Espanha, Filipinas, França e Singapura.
A Comissão Metodológica vai ser coordenada pela irmã Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo dos Bispos e a primeira mulher com direito a voto nestas assembleias.
Além desta estrutura, o Sínodo tem uma Comissão Teológica, uma de Espiritualidade e outra de Comunicação, onde estão presentes dois portugueses: o Pe. Paulo Terroso, diretor do Departamento de Comunicação da Arquidiocese de Braga e administrador do ‘Diário do Minho’; e Leopoldina Reis Simões, profissional de assessoria de imprensa, relações públicas e comunicação.
Texto e fotos: Ricardo Perna
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