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Talibãs procuram jornalistas e aliados da NATO
20.08.2021
As promessas iniciais de não existir vingança contra ninguém e de maior intervenção pública de mulheres não sossegam ninguém. O Centro Norueguês de Análises Globais RHIPTO, que fornece dados à ONU, revela à BBC que «há um grande número de pessoas que estão a ser alvo dos talibãs e a ameaça é cristalina». Está a haver busca porta a porta por pessoas que trabalhavam ou colaboravam com as forças da Nato ou para o anterior governo do Afeganistão. «Está escrito que, a menos que se entreguem, os talibãs vão prender, processar, interrogar e punir os familiares em nome dessas pessoas», diz Christian Nellemann, um dos responsáveis do RHIPTO.



Também a televisão alemã Deutsche Welle deu conta que soldados talibãs procuravam um dos seus jornalistas e que um familiar dele foi morto na quarta-feira, outra pessoa ficou ferida e outros familiares conseguiram fugir. «A morte de um familiar de um dos nossos editores pelos talibãs ontem é um uma tragédia inconcebível, e testemunha o perigo real no qual estão os nossos funcionários e as suas famílias no Afeganistão», disse o diretor-geral Peter Limbourg. «É evidente que os talibãs já estão a fazer buscar organizadas por jornalistas tanto em Cabul como nas províncias. Estamos a ficar sem tempo!», escreveu num artigo.  

A Amnistia Internacional dá conta também que há poucas semanas os talibãs «torturaram e massacraram», pelo menos, nove homens da minoria hazara, em Ghazni.

O caos e o medo no país levou o Papa Francisco a pedir orações pelo Afeganistão: «Peço-lhes que rezem comigo ao Deus da paz para que cesse o barulho das armas e as soluções possam ser encontradas na mesa do diálogo. Somente assim a martirizada população daquele país - homens, mulheres, idosos e crianças - poderá voltar para suas casas e viver em paz e segurança no pleno respeito mútuo.»



Thomas Heine-Geldern, presidente executivo da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), está preocupado com o futuro e os direitos religiosos no país. «Durante o governo do anterior Emirado do Afeganistão (1996 a 2001), os Talibãs impuseram em todo o país uma versão estrita da sharia, a lei islâmica. Podemos esperar que o Islão sunita seja a religião oficial, que seja reintroduzida a sharia e que sejam revogadas as liberdades e os direitos fundamentais, incluindo a liberdade religiosa, que têm sido tão difíceis de alcançar nos últimos 20 anos», afirmou, citado pela AIS.

A situação humanitária é complicada. Os Estados Unidos da América já retiraram do Afeganistão nove mil pessoas, entre norte-americanos, colaboradores afegãos e família, e afegãos considerados «vulneráveis». A NATO revelou à Reuters que, até sexta-feira, dia 20, já tinham sido retiradas 18 mil pessoas do país. Continuando a haver milhares de pessoas a querer sair do Afeganistão no aeroporto de Cabul.

Os membros da NATO preparam-se para acolher algumas destas pessoas. Portugal é um desses estados-membros. O Ministério da Administração Interna disponibilizou-se para receber 50 afegãos, dando prioridade a crianças e mulheres.
 
Texto: Cláudia Sebastião
Fotos: Lusa
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