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​Um mundo cada vez menos livre para se ter fé
20.04.2021
A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) apresentou hoje o seu Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, a 15ª edição do mesmo, que é publicado de dois em dois anos, em seis línguas diferentes. Apresentado em todo o mundo à mesma hora, em Portugal a apresentação esteve a cargo de Guilherme d’Oliveira Martins, antigo presidente da Tribunal de Contas e administrador da Fundação Calouste Gulbenkian.

 
Os dados apresentados pela Fundação AIS mostram um agravamento preocupantes das perseguições religiosas em todo o mundo. Cerca de um terço de todos os países do mundo, 62 em 196 países, regista violação da liberdade religiosa, não necessariamente contra a religião católica. É uma atitude intolerância generalizada, que tem expressões próprias em cada país, habitualmente sempre contra as minorias religiosas desse país.
 
As minorias religiosas viram, segundo o relatório, a sua situação piorar durante a pandemia. «Os preconceitos sociais pré-existentes contra as minorias religiosas em países como a China, o Níger, a Turquia, o Egipto e o Paquistão levaram a um aumento da discriminação durante a pandemia da COVID-19 através, por exemplo, da recusa do acesso a ajuda alimentar e médica», pode ler-se no relatório.
 
Preocupante é também a situação em África, com Moçambique a surgir à cabeça das preocupações pelo agravar da situação, mas com 23 de 54 países a sofrerem atos de perseguição, «incluindo terrorismo e profanação de locais de culto como formas de violência com motivação religiosa». «Entre estes, 22% (12 países) sofrem formas extremas de perseguição, como assassinatos em massa», refere o relatório.
 
Apesar do relatório referir que a internet veio ajudar na radicalização e recrutamento de muitos seguidores da parte de organizações que pretendem instalar califados um pouco por países junto da linha do Equador, também refere que as «unidades antiterroristas conseguiram impedir ataques em vários países ocidentais». O problema está, portanto, localizado em países mais pobres, que não têm esta capacidade ou meios de organização e resposta.
 
Uma das armas mais utilizadas por estes grupos, afirma o relatório, é a violência sexual contra estas minorias. «Num número crescente de países foram registados crimes contra raparigas e mulheres raptadas, violadas e obrigadas a mudar a sua fé através
de conversões forçadas. As questões sobre o número crescente destas violações, que são frequentemente cometidas com impunidade, alimentam as preocupações de uma estratégia fundamentalista para acelerar o desaparecimento de certos grupos religiosos a longo prazo».


 
Na apresentação, Guilherme d'Oliveira Martins realça que, «apesar de ser um relatório feito por uma organização católica, o relatório dá uma visão de conjunto sobre uma situação que nos deve preocupar a todos», destacando que, «apesar de pequenos progressos em 9 países, houve um retrocesso em 20». «A questão dos direitos humanos é transversal, manifesta-se em todo o mundo, e deve ser afirmado como questão de princípio. É por isso indispensável que estas questões sejam colocadas com uma grande serenidade e rigor», referiu Guilherme d'Oliveira Martins.

Sobre a situação em Moçambique, o administrador da Fundação Calouste Gulbenkian considera que é um «tema de enorme sensibilidade e dificuldade, uma vez que encontramos fragilidade nestes estados para garantir a segurança das populações». «É indispensável que haja intervenção corajosa da parte do Estado moçambicano, para não gerar situações de vazio de autoridade, que suscita estas situações.  
 
O documento refere as tentativas do Papa Francisco de construir uma fraternidade entre todas as religiões, nomeadamente a declaração sobre a fraternidade humana «em conjunto com o Grande Imã Ahamad Al-Tayyib de Al-Azar, o líder do mundo muçulmano sunita; celebrou a primeira Missa católica de sempre na Península da Arábia; e no final do período em análise visitou o Iraque, a sua primeira visita a um país de maioria xiita, para aprofundar o diálogo inter-religioso».

Além da análise dos dados enviados, o relatório conta histórias de perseguição um pouco por todo o mundo. 
 
Reflectindo sobre a gravidade das conclusões do relatório, o presidente executivo da ACN International, Thomas Heine-Geldern, afirmou que, «lamentavelmente, apesar das iniciativas, embora importantes, da ONU e dos colaboradores das embaixadas da liberdade religiosa, até à presente data a resposta da comunidade internacional à violência com base na religião, e à perseguição religiosa em geral, pode ser classificada como muito pouca e muito tardia».

O cardeal Mauro Piacenza diz que liberdade religiosa é a liberdade base de todas as liberdades, porque toca na consciência de cada um e não pode ser «espezinhada» por nenhum poítico ou governo.
 
Publicado pela primeira vez em 1999, o relatório bienal analisa até que ponto o direito humano fundamental à liberdade religiosa, protegido pelo Artigo 18º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, é respeitado para todas as religiões nos 196 países do mundo. Os dados recolhidos no relatório são fornecidos pelos secretariados internacionais da Fundação AIS e por missionários e outros agentes pastorais no terreno a uma comissão de especialistas que trabalham a informação.
 
 
#StandUpforReligiousFreedom
#defendaaliberdadereligiosa


 
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