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Voltar a ser como “anões” ao colo de “gigantes”
18.07.2022
No dia 15 de junho de 2022, em Ariccia (Itália), foi eleito o novo superior-geral da Sociedade de São Paulo [proprietária da Família Cristã], Pe. Domenico Soliman, oitavo sucessor do Beato Alberione, fundador da Família Paulista. Ao Pe. Soliman, junto com o seu Conselho, caberá a tarefa de governar a Congregação destes religiosos nos próximos seis anos. Na primeira entrevista que o novo superior-geral deu ao diretor da Famiglia Cristiana, nossa congénere italiana, o Pe. Soliman utilizava um conjunto e palavras como «conviver», «intercâmbio», «vizinhança», «contagiar» e expressões como «habitar juntos» para expressar a importância das relações entre a juventude e uma congregação que, embora recente na História, é constituída por uma significativa percentagem de pessoas de idade avançada. O Pe. Domenico, que durante alguns anos esteve dedicado à formação, refletia sobre a importância de aprendermos a habitar o mesmo espaço, jovens e mais velhos, para nos deixarmos influenciar uns pelos outros.

Deixar-se influenciar uns pelos outros (jovens e menos jovens) também terá de ser a proposta a um ano da Jornada Mundial da Juventude, que irá decorrer, em Lisboa, no ano de 2023. As águas, mares ou rios, que outrora levaram os portugueses a descobrir outras gentes e culturas, serão o cenário ideal para receber milhares de jovens, de todos os cantos do mundo, que aqui virão celebrar juntos a fé em Cristo Jesus. As águas desta «Ocidental praia Lusitana», que nos ajudaram a partir, serão um convite para que agora saibamos receber e acolher!

Junto ao mar de então, afirmava Camões, «um velho, de aspecto venerando,
//que ficava nas praias, entre a gente, //postos em nós os olhos, meneando, //três vezes a cabeça, descontente…» Hoje o descontentamento será outro, como afirma o Papa Francisco, na sua mensagem para o II Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, que celebramos a 24 de julho. Hoje, os velhos de tantos Restelos, espalhados pelo mundo fora, estão resignados, caminhando «com pouca esperança e sem nada mais esperar do futuro.» Hoje, as naus que querem desbravar os mares da eterna juventude fazem-nos temer a velhice. «Consideram-na uma espécie de doença, com a qual é melhor evitar qualquer tipo de contacto: os idosos não nos dizem respeito – pensam elas – e é conveniente que estejam o mais longe possível, talvez juntos uns com os outros, em estruturas que cuidem deles e nos livrem da obrigação de nos ocuparmos das suas penas. É a “cultura do descarte”: aquela mentalidade que, enquanto nos faz sentir diversos dos mais frágeis e alheios à sua fragilidade, permite-nos imaginar caminhos separados entre “nós” e “eles”», afirma Francisco.

Contra a «cultura do descarte», identificada pelo Papa, e tendo como horizonte próximo a celebração da Jornada Mundial da Juventude, desde já, é preciso aprender a «habitar juntos», como sugere o Pe. Domenico Soliman, novos e velhos, a deixarmo-nos «contagiar» pelas experiências de uns e de outros. Como sugere Francisco, devemos aprender a passar do plano assistencial ao existencial. Esperar os jovens com a sabedoria dos mais velhos. Explica o Papa Francisco, os avós e idosos têm uma grande responsabilidade: «Ensinar às mulheres e aos homens do nosso tempo a contemplar os outros com o mesmo olhar compreensivo e terno que temos para com os nossos netos. Aprimoramos a nossa Humanidade ao cuidar do próximo e, hoje, podemos ser mestres de um modo de viver pacífico e atento aos mais frágeis.»

Desta pátria lusitana podemos voltar a ser artífices de grandes feitos e descobrir novas rotas, a importante via da desmilitarização dos corações, numa época em que se torna imperativo dobrar o cabo das tormentas das guerras várias, a maioria delas ideológicas. Aprendamos a conviver. Acalentando e incentivando o sonho daqueles que querem partir à descoberta de novos mundos sem esquecer o colo daqueles que guardam a sabedoria de todo o mundo, os nossos avós e idosos.