Final de março: do Porto partem três enfermeiros e um engenheiro ambiental. Vão ter uma semana de férias. Destino: ilha de Lesbos, na Grécia. A ilha é turística, mas nos últimos anos tem ficado conhecida por outros motivos. É o local da União Europeia mais perto da Turquia. Só no ano passado, 500 mil refugiados fizeram a viagem de barco. E essa é a razão que leva este grupo até lá.
«Senti a chamada interior a fazer algo diferente, sempre neste sentido de me entregar mais ao outro, e era sempre esta questão dos refugiados.»
Karina Oliveira sugeriu uma missão a Isabel Ferreira, presidente da associação Passo Positivo, organização não-governamental do Porto. O desafio foi aceite. A ideia incluía «trabalhar no campo de refugiados de Moria, que faz o registo dos refugiados na ilha», explica Karina. Além disso, uma parte do trabalho seria ambiental.
Pedro Teiga, doutorado em Engenharia do Ambiente, trabalha especialmente a questão dos rios e da água. Em Lesbos, o grupo arranjou um barco que trouxe refugiados até à ilha. Agora, «já está a funcionar para recolher coletes e fazer limpeza das praias. São resultados que vão dar frutos a longo prazo.»
Mas o projeto inicial mudou quando a União Europeia decidiu repatriar os refugiados para a Turquia. Ao chegar, os voluntários encontraram o campo de Moria fechado e controlado por militares. Daí que a decisão tenha sido ir para onde eram precisos. A escolha recaiu no porto de Atenas onde estão “acampadas” cinco a seis mil pessoas.
As marcas que ficam
Pedro tem experiência de missão. Aprendeu que o contacto olhos nos olhos é essencial. «Deu para perceber de uma forma bastante grave a desumanização que nós Europa temos. Poderíamos ser nós, um qualquer de nós a estar nessa situação.»
Isabel Ferreira liderou a missão na Grécia. Em 2010, esteve no Haiti depois do terramoto. Ter experiências anteriores não torna o coração mais frio ou intocável. Isabel sentiu-se «ir abaixo» no porto de Atenas. Havia vários autocarros para levar os refugiados para campos. Tudo pacífico até que «chega o tal autocarro azul-bebé. A ideia era separar as famílias e dar melhores condições às mulheres e bebés, levando-as para campos mais próximos do hospital.» Geraram-se várias discussões. «Aquele autocarro esteve meia hora no local e foi embora vazio. Ninguém quis entrar. As famílias mantiveram-se unidas.»
No final da missão, a equipa regressou a Lesbos de ferry. Tinha começado a deportação e viajavam com eles 30 a 40 refugiados acompanhados por uma dezena de polícias. Rui Silva viu algo que ficou gravado em si. «Quando passei, vi um refugiado, na casa dos 20 anos, numa casa de banho, virado para a parede com as mãos nos olhos e dois polícias consternados. Ele devia estar a pensar que tinha sobrevivido a uma viagem muito dura e perigosa. Agora estava a ser tratado como um criminoso e mandado de volta para a Turquia…»
Cinco mulheres rumo à Jordânia
A mesma vontade de partir e de ajudar tem um grupo de cinco mulheres que neste mês de junho estão a trabalhar como voluntárias na Jordânia. Ana Rita, Ana Cristina, Inês, Catarina e Sofia estão em Amã.

Ana Rita Sousa, jurista, lançou o desafio para a missão. No inverno, as imagens de refugiados sem meios para se aquecer comoveram-na. Lançou a ideia no Facebook e logo surgiram quatro voluntárias. Em comum têm a vontade de ajudar e o sentimento de impotência perante «tão grande sofrimento», como explica Ana Cristina Figueiredo. D
Ana Cristina conhece muito bem a Jordânia: «Um em cada três habitantes é refugiado. Há refugiados da Palestina, há várias gerações, e alguns de conflitos mais recentes, como Iraque e Síria.»
Dinheiro ao serviço da missão
Tal como com o grupo da associação Passo Positivo, também aqui as despesas são todas por conta das voluntárias. Em tudo isto, a fé e a confiança em Deus têm um papel fundamental. Catarina Soares sublinha: «Une-nos o facto de sermos crentes, ajuda vermos estas pessoas como irmãos, filhos do mesmo Pai.» Mesmo que a grande maioria seja muçulmana. «É mesmo a isso que Deus nos chama: a um amor maior, que não ama na facilidade, mas aquela pessoa com quem eu tenho de dar um passo para que o amor seja real e que o amor seja de Deus.»
Leia a versão integral desta reportagem na edição da FAMÍLIA CRISTÃ de junho